I SÉRIE — NÚMERO 1
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SNS demonstrou ser o instrumento e a solução para garantir o acesso de todos à saúde, não obstante
insuficiências e limitações decorrentes do desinvestimento de vários Governos, que não ignoramos, e, por isso,
defendemos uma política alternativa de reforço da capacidade do SNS.
Contrariamente a outros, que atacam deliberadamente o SNS com vista à sua descredibilização e
fragilização, não entendemos que os grupos privados de saúde sejam solução para a prestação de cuidados.
Para quem ainda tivesse dúvidas, a epidemia que vivemos revelou com clareza que o que realmente importa
para os grupos privados da saúde não é a saúde das pessoas, mas sim o negócio da doença e a maximização
de lucros. Na fase inicial da epidemia, os grupos privados esconderam-se e fecharam as portas e, mais
recentemente, ficámos a saber que há unidades privadas que rejeitam as mulheres grávidas que tenham teste
positivo à COVID-19.
Quando os partidos da política de direita aqui defendem que os recursos públicos não devem ser mobilizados
para reforçar o SNS, mas sim transferidos para os grupos privados, não estão a defender a saúde dos utentes,
mas sim o negócio da doença e o lucro dos grupos económicos à custa da saúde dos portugueses. Por outro
lado, a ausência de medidas eficazes por parte do Governo deixa a porta escancarada para que a privatização
da saúde ganhe ainda mais terreno.
Apesar da proposta aprovada no Orçamento do Estado para 2020, o Governo ainda não avançou com a
criação do laboratório nacional do medicamento, fundamental para assegurar a acessibilidade aos
medicamentos, mas também para reduzir a dependência externa do País.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — A contratação de profissionais de saúde está muito aquém do necessário e, diariamente, vamos conhecendo novas dificuldades em unidades de saúde devido à falta de trabalhadores.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Neste momento, estão colocadas grandes exigências ao Serviço
Nacional de Saúde, que impõem a adoção de medidas para a recuperação das consultas, das cirurgias, dos
exames e dos tratamentos que ficaram por fazer. O Serviço Nacional de Saúde tem de continuar a tratar os
doentes COVID, preparar-se para o período de inverno que se aproxima e, ao mesmo tempo, garantir o
acompanhamento e o tratamento dos doentes com todas as outras patologias, que não desapareceram.
Comparando o período entre janeiro e julho de 2019 com o de 2020, há uma redução de mais de 4 milhões
de consultas nos cuidados de saúde primários, há menos 100 000 cirurgias e há menos 1 milhão de consultas
hospitalares. Nos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, a tendência é semelhante.
Registam-se dificuldades no acesso aos cuidados de saúde primários. Há extensões de saúde encerradas.
Há utentes que não conseguem marcar consultas e, por vezes, quando conseguem, a consulta é à janela, sem
qualquer privacidade. Os utentes não conseguem contactar telefonicamente o centro de saúde, ou porque o
sistema é obsoleto, ou porque não há trabalhadores suficientes para atender as chamadas, ou, então, ficam
horas à espera de um atendimento, à porta do centro de saúde, por vezes expostos a condições climatéricas
adversas. As pessoas com doenças crónicas não estão a ter o acompanhamento necessário e há rastreios de
doenças oncológicas por fazer. Se o acesso aos cuidados de saúde primários é limitado, a referenciação para
consultas nas unidades hospitalares fica condicionada.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Para agravar a situação, nos primeiros oito meses do ano, mais de 200 000 utentes perderam o médico de família, totalizando agora 953 000 utentes sem médico de família. A recuperação
da atividade dos cuidados de saúde primários e das suas consultas tem de ser considerada uma prioridade,
assim como a recuperação de toda a atividade assistencial, e é preciso investir nesse sentido.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Face à centralidade das questões da saúde e dada a falta de uma
resposta eficaz do Governo para resolver os problemas existentes, o PCP entregou iniciativas legislativas, neste
início de sessão, para a valorização e o reforço dos direitos dos trabalhadores da saúde, para a atribuição de
um suplemento remuneratório aos trabalhadores dos serviços essenciais — nos quais se incluem, naturalmente,
os trabalhadores da área da saúde — e para a criação de um plano de recuperação da atividade nos cuidados
de saúde primários, considerando as dificuldades no acesso à saúde.