I SÉRIE — NÚMERO 4
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negativos desta atividade, nomeadamente no que respeita à precariedade laboral, aos problemas de habitação
e à pressão sobre as cidades. É incompreensível a negação da realização de um estudo de carga turística,
que continua a não estar no leque de medidas a tomar na fase de recuperação económica.
Sr. Primeiro-Ministro, parece-nos fundamental que esta revisão seja carreada para o plano e que, acima de
tudo, se faça este estudo. Portanto, desde logo, uma das primeiras perguntas que se impõe é esta: para
quando este estudo na área turística, de que o País tanto carece?
Mas para além das contradições, este plano é marcado por uma certa ingenuidade e falta de ambição.
Ingenuidade visível na crença de que a extração de recursos, em terra ou no mar, é compatível com a
sustentabilidade de ecossistemas, sem que sejam impostas linhas vermelhas claras em matéria ambiental.
Sr. Primeiro-Ministro, o País e o planeta precisam de ação e precisam também de uma visão disruptiva. Por
isso mesmo, precisamos de saber se o Governo vai ser realista e vai assumir os custos e riscos associados a
estas atividades ou se vai fazer prevalecer a crença de que as novas tecnologias são a varinha mágica que vai
salvar os ecossistemas.
Não deixamos, contudo, de reconhecer alguma bondade em algumas medidas do plano de Costa Silva,
nomeadamente, de saudar algumas propostas que convergem com as preocupações do PAN para a transição
económica e social, como sejam a aposta na ferrovia, o aumento da melhoria nos transportes públicos, a
aposta na digitalização, apesar de tardia, ou a aposta no turismo de natureza, em contraste com aquela que é
a excessiva dependência do País no setor do turismo tradicional.
Congratulamo-nos, ainda, com os esclarecimentos prestados pelo Prof. Costa Silva, na audição da semana
passada, nomeadamente ao ter clarificado que não defende a exploração mineira e de recursos naturais em
áreas protegidas, que a Convenção de Albufeira deve ser renegociada, que deve ser realizado um estudo de
carga turística para o País, como o PAN há muito propõe, e que a opção de localização do novo aeroporto de
Lisboa em Beja, com ligação ferroviária de alta velocidade a Lisboa, é uma hipótese que deve ser estudada.
Por fim, Sr. Primeiro-Ministro, não podemos deixar de destacar que o Prof. Costa Silva reconheceu que o
modelo socioeconómico vigente deve ser revisto à luz dos limites planetários, algo que não é tido em
consideração no plano que apresentou.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, o que não podemos deixar de lhe perguntar, a este tempo, é se vai ou não
incluir estas preocupações no documento final e na visão que vai apresentar para o País.
Por outro lado, não podemos também deixar de lhe apontar algumas incoerências entre a narrativa e as
medidas apresentadas.
Desde logo, temos propostas para a economia circular — está certo! —, mas o silêncio é total em relação a
medidas concretas para reduzir a produção de resíduos, que é um dos maiores flagelos ambientais do País e
do planeta.
O plano defende uma aposta na indústria transformadora, designadamente nos moldes e injeção de
plásticos. Contudo, Sr. Primeiro-Ministro, como é possível uma aposta nos plásticos e que tal seja compatível
com a vida nos oceanos?! Como é possível termos uma proposta desta natureza quando o mundo reconhece
que uma das prioridades ambientais do nosso tempo, em defesa do ambiente e da saúde pública, passa
precisamente pelo combate ao uso de plásticos e microplásticos?!
O plano também defende uma aposta na economia de extração da floresta, com a integração de cadeias
de mobiliário, cortiça, pasta de papel, ou seja, basicamente, eucaliptos e pinheiros. De que forma pretende o
Governo conciliar essa aposta com aquilo que tem de ser necessariamente o combate às alterações
climáticas, aos incêndios, à recuperação de habitats e ecossistemas e à proteção da biodiversidade?
Este plano é, ainda, totalmente omisso quanto à necessidade de reduzir as emissões no setor da pecuária.
E, a este propósito, Sr. Primeiro-Ministro, aquilo que perguntamos é até quando vamos continuar a ignorar
este problema e, também, sobretudo, que propostas para o futuro dos nossos jovens no atual enquadramento,
seja a nível da educação, seja a nível da empregabilidade e da salvaguarda dos seus direitos no que respeita
ao meio ambiente, que também continuam, de alguma forma, omissos.
Este plano é ainda insuficiente no que respeita à dimensão do impacto que as medidas de recuperação da
economia têm em matéria de igualdade entre homens e mulheres, combate à pobreza e exclusão social, em
particular da população mais velha.