24 DE SETEMBRO DE 2020
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Sr. Primeiro-Ministro, a Ministra da Saúde disse, hoje, que havia mais médicos no Serviço Nacional de
Saúde. Não é isso que está nos números do portal do Serviço Nacional de Saúde. Na verdade, durante a
pandemia, o número de médicos do SNS foi descendo. Comparando com janeiro, tínhamos, em julho, menos
130 médicos de carreira e menos 452 internos. Há mesmo menos médicos no SNS. As listas de espera para
consultas ou cirurgias aumentam, há mais utentes sem médico de família e muitos profissionais de saúde
estão absolutamente exaustos. Só nos meses de verão fizeram mais de seis milhões e meio de horas
extraordinárias.
Teremos, previsivelmente, mais pressão no Serviço Nacional de Saúde, mas porque a crise pandémica é
também uma crise económica e social, teremos também uma vaga de despedimentos e de aumento do
desemprego.
Em julho, as pessoas em situação de desemprego eram já mais de 600 mil; destas, cerca de 400 mil estão
sem acesso a subsídio de desemprego, incluindo o subsídio social de desemprego. Diversas organizações no
terreno têm dado conta de que a pobreza está a disparar, com pedidos crescentes de apoio alimentar, e ainda
não está, sequer, garantida a proibição do corte de acesso a bens essenciais, pelo menos até ao final do ano.
Ouço, neste debate, o Partido Socialista falar num eventual futuro apoio a idosos, mas lembro que o
Governo ainda não concretizou a medida que estava prevista no Orçamento do Estado para 2020 de retirar os
filhos do cálculo do 3.º escalão para acesso ao complemento solidário para idosos, uma medida que é tão
importante para apoiar os idosos mais pobres do nosso País.
Até agora, tudo o que sabemos das intenções do Governo, além do plano de investimento com fundos
europeus, que ainda não são certos, é que pretende continuar a garantir o financiamento dos prejuízos do
Novo Banco, mesmo sabendo que pode estar a ser enganado pela Lone Star. E nem o pouco que já sabemos
sobre as perdas do Novo Banco e que está na auditoria que foi feita, ainda que incompleta, vai ser
integralmente divulgado, porque PS e PSD juntaram-se, esta manhã, para manter o segredo.
Enquanto o sistema financeiro continua protegido, o Governo tarda em cumprir o que acordou com o Bloco
de Esquerda no Orçamento do Estado para 2020 para proteger o Serviço Nacional de Saúde. E se há
urgência é mesmo a contratação de profissionais de saúde.
O Orçamento do Estado para 2020 previa mais 8400 profissionais contratados em 2020 e 2021. Ou seja,
este ano deviam ter sido contratados, de forma permanente, mais 4200 trabalhadores para o Serviço Nacional
de Saúde, para além das contratações devidas para substituição de reformas ou situações extraordinárias de
pico. Ora, estas contratações, que aumentavam de forma líquida o número de trabalhadores do SNS, pura e
simplesmente, não foram feitas.
O caso dos médicos, repito, é flagrante. Este ano, e no momento em que mais precisava, o SNS perdeu
quase 600 médicos. E não é que não existam, há 1000 médicos à espera de vaga para especialidade. Mas
tendo aberto, finalmente, concursos, as vagas não foram reforçadas, nem foram, de facto, contratados mais
médicos.
O caso dos restantes profissionais de saúde também não nos sossega. É certo que foram contratados,
para responder à COVID, cerca de 4000 trabalhadores, essencialmente enfermeiros e assistentes
operacionais. E como são necessários no Serviço Nacional de Saúde! Só que os contratos são precários e a
contratação dos cerca de 3000 profissionais previstos no programa de estabilização continua parada no
Ministério das Finanças.
Os profissionais de que o SNS precisa não podem ser contratados de quatro em quatro meses, o Serviço
Nacional de Saúde precisa de se organizar e precisa de contratação definitiva.
Os profissionais do SNS que estão na linha da frente todos os dias estão exaustos e, ao mesmo tempo, a
população espera e desespera pelas consultas, exames e cirurgias adiadas. Só que o Governo não está a
concretizar o reforço do Serviço Nacional de Saúde, que já foi aprovado, tanto no Orçamento do Estado para
2020, como no Orçamento Suplementar.
Sr. Primeiro-Ministro, o Bloco de Esquerda quer debater soluções, soluções para o País, apoio robusto
para quem perde emprego, salário, rendimento.
Já apresentámos publicamente as nossas propostas: reforço do subsídio de desemprego e subsídio social
de desemprego; criação do rendimento social de cidadania, para responder à brutal perda de rendimento dos
mais precários dos precários — temporários, microempresários, trabalhadores independentes, entre outros.
Ninguém pode ficar abaixo do limiar de pobreza no meio da crise pandémica.