24 DE SETEMBRO DE 2020
13
Assim, Sr. Primeiro-Ministro, para concluir, e tendo em conta que também não há uma única medida de
combate à corrupção, de transparência no uso dos fundos comunitários e daquela que possa ser a
participação cidadã, até onde está o Governo disponível a ir?
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Concluo já, Sr. Presidente. Aquilo que se impõe saber neste debate, Sr. Primeiro-Ministro, é como daremos resposta a estes grandes
desafios e que pontes está o Governo disponível para construir, nomeadamente no âmbito das preocupações
do PAN.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Tal como Os Verdes já tiveram oportunidade de afirmar no encontro que tivemos com o Sr. Primeiro-Ministro e
com outros Srs. Membros do Governo, receamos estar perante uma oportunidade perdida, e isto não pode
voltar a acontecer, sobretudo numa altura em que o País e o mundo se confrontam com uma grave crise de
saúde pública e com impactos ainda incalculáveis tanto do ponto de vista económico quanto do ponto de vista
social, crise que, aliás, tem na sua origem os desequilíbrios que se criaram na relação do homem com a
natureza e que veio confirmar as grandes debilidades dos países e dos povos que estão subordinados a um
modelo de crescimento globalizado, sustentado no saque da natureza e nas desigualdades sociais e
territoriais.
Portanto, mais do que nunca é preciso garantir respostas às necessidades do presente, até porque são
muitos os que dependem dessas respostas, mas é também necessário pensar o futuro, delineando caminhos
de sustentabilidade, nos quais a economia e a produção têm de caminhar lado a lado com a defesa da
natureza e com a justiça social.
Sucede que, das sugestões apresentadas pelo Prof. Costa Silva para o plano de recuperação da
economia, traduzidas, de certa forma, em propostas de financiamento no plano de recuperação e resiliência
que foi apresentado pelo Governo, a soberania alimentar e a conservação da natureza, que são dois pilares
estratégicos da resiliência de um país e de um povo perante catástrofes de toda a ordem, são praticamente
ignoradas. De facto, a visão e o financiamento apresentados para o reforço do potencial produtivo, a coberto
do manto da investigação e da inovação, estão todos eles virados para a agricultura intensiva e agroindustrial,
que provoca, como sabemos, graves impactes ambientais, deixando completamente de fora a agricultura
familiar, que continua a desempenhar um papel social e ambiental fundamental, nomeadamente no que diz
respeito ao combate à desertificação.
A agricultura familiar é, sem dúvida, a que mais vocacionada se encontra para garantir a soberania
alimentar, para procurarmos essa soberania alimentar, de uma forma equilibrada, diversificada e numa relação
de proximidade com os consumidores, questões fundamentais quando estamos confrontados com pandemias
como aquela que estamos a viver, mas também com a ameaça das alterações climáticas.
Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, não vemos nestas propostas nenhum financiamento que venha beneficiar a
agricultura familiar e nenhum instrumento que possa privilegiar a produção alimentar virada para o consumo
interno e para assegurar a nossa soberania alimentar. O que pergunto, Sr. Primeiro-Ministro, é se estaremos
enganados, se somos nós que estamos a ver mal o «filme».
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Sr. Primeiro-Ministro apresentou-nos um programa de recuperação e resiliência em que falou de coesão territorial e é impressionante que, nessa
coesão territorial, não tenha mencionado o Algarve uma única vez. A região do País onde o desemprego