24 DE SETEMBRO DE 2020
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Vivemos um tempo excecional e, neste tempo excecional, há uma pergunta à qual o Governo tem mesmo
de responder: o que esperam, hoje, os portugueses da ação do Governo? É isto que o Governo tem de
perceber: o que esperam os portugueses da ação do Governo? Sr. Primeiro Ministro, o que os portugueses
esperam da ação do Governo é muito simples: um rumo! Esperam um rumo, Sr. Primeiro Ministro, que seja
mobilizador de todos os portugueses, que envolva os trabalhadores, os empresários, as empresas, as
universidades, as instituições. Infelizmente, o Governo não tem sido capaz de definir esse rumo nem de
mobilizar os portugueses para o que temos todos de fazer.
O próprio autor da Visão Estratégica encomendada pelo Governo, Prof. António Costa Silva, disse-o de
forma muito clara — e, hoje, a oportunidade desta afirmação é da maior relevância: «Se não houver uma
colaboração e apoio do Estado às empresas rentáveis e competitivas, que estão com dificuldades de
tesouraria por causa da pandemia, e estas falirem, vai ser um desastre para a economia portuguesa e a
recuperação vai ser mais lenta.»
Esperemos que esta afirmação do Prof. António Costa Silva tenha eco no seio do Governo e permita que
percebam, de uma vez por todas, que um plano de recuperação tem mesmo de ter, no seu cerne, medidas
que potenciem a produtividade e a competitividade das empresas, porque são as empresas, os empresários e
os trabalhadores que criam riqueza e fazem crescer o País. E é mesmo aí, na capacidade empreendedora, na
inovação, no potencial para criar mais e melhor emprego, que tem de se colocar a fatia de leão do apoio
europeu à recuperação económica do País. Esta resposta ainda não foi dada hoje pelo Sr. Primeiro-Ministro e
deveria ser dada. É neste âmbito, nas empresas, que deve ser colocada a fatia de leão.
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Hoje, os
portugueses esperam do Governo o que o Governo não conseguiu dar nos cinco anos de governação —
orientação estratégica, objetivos claros e capacidade de concretização. Os portugueses esperam do Governo
muito mais ação e menos propaganda.
Após a apresentação pelo Prof. António Costa Silva da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação
Económica, o Sr. Primeiro Ministro iniciou a sua intervenção com uma interrogação, de que me recordo por ter
estado lá a assistir. Perguntava o Sr. Primeiro-Ministro: «E agora?» Pois, é uma boa pergunta, que deve ser
colocada no seu Conselho de Ministros: «E agora?» É uma pergunta que também temos de lhe devolver: «E
agora, Sr. Primeiro-Ministro?» A questão é que as respostas não têm sido dadas e, hoje, viu-se neste debate
que não há resposta para o que vem a seguir. Não se percebe qual é o plano do Governo!
Agora, é hora de o seu Governo fazer o que tem de ser feito: criar um modelo de governação dos fundos
europeus à prova de interesses que não sejam apenas e só o interesse de Portugal e dos portugueses;
apostar nos portugueses e na sua capacidade de enfrentar adversidades; ouvir a sociedade portuguesa e
definir as prioridades certas.
Será imperdoável não termos um Governo à altura do momento que vivemos. Será imperdoável termos um
Governo que cometa os mesmos erros dos Governos socialistas do passado. Será imperdoável que este seja
o Governo da oportunidade perdida. Não há tempo para errar, este é mesmo o tempo para acertar.
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Termino
nos mesmos termos em que já o fiz, deste mesmo lugar, com o pensamento de Almada Negreiros, que traduz
muito o momento que vivemos: «Quando eu nasci, as frases que hão de salvar a humanidade já estavam
todas escritas, só faltava uma coisa — salvar a humanidade.» Neste caso, o que falta mesmo é um plano, e
esse plano que ainda não se percebeu qual é.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, creio que ainda haverá oportunidade para fazer um esclarecimento.
Gostava só de dizer ao Sr. Primeiro-Ministro que fizemos o nosso trabalho de casa e, portanto, solicitei e
obtive, hoje, este documento precioso para o meu partido. Foi assim que, depois de ter passado alguns dias a