I SÉRIE — NÚMERO 4
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esta crise bem mostrou, porque o que a crise revela é que precisamos de trabalhar em áreas onde já
estávamos a trabalhar.
Aquilo que procuramos garantir é que, no quadro dos Orçamentos do Estado, do plano de recuperação e
do quadro financeiro plurianual, consigamos uma resposta coerente para todos estes problemas que
identificaram e para muitos outros que poderíamos identificar com mais tempo, sem achar que, primeiro,
temos de resolver o que é urgente e, depois, logo tratamos do que é estrutural, porque, se o fizermos, já não
vamos responder ao que é estrutural.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Totalmente de acordo!
A Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência: — Por isso, a questão do emprego atravessa também esta dimensão, porque o que se mostra é que temos de continuar o trabalho que estávamos a fazer, e não apenas
de criação de emprego, apostando desde logo em projetos que possam dar provas rápidas da capacidade de
criar emprego e também trabalhando na qualidade do emprego, nomeadamente combatendo a precariedade.
Aquilo que fica deste debate, creio eu, é uma pergunta: se não formos capazes de nos entender numa
resposta à crise que aumente o investimento, que proteja o SNS, que reforce as políticas sociais, quando é
que poderemos ser capazes de nos entender?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Chegámos, assim, ao fim do período de debate. Vamos passar à fase de encerramento.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo Parlamentar do Partido
Ecologista «Os Verdes».
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O Governo traz hoje a discussão o plano de recuperação e resiliência, assumido como um dos principais
instrumentos de intervenção estrutural com vista à recuperação da economia e para melhorar a qualidade de
vida dos portugueses.
Ora, como afirmámos desde a primeira hora, Os Verdes continuam a considerar que será um erro
irreversível se se procurar recuperar a economia através de opções que provocam grandes e graves impactos
ambientais e cujos contributos para o desenvolvimento do País são mais que duvidosos.
Referimo-nos, por exemplo, à localização do novo aeroporto no Montijo, à exploração desenfreada de lítio,
ignorando as preocupações das populações e abrindo, até, a porta para que essa exploração possa ter lugar
em áreas classificadas, aos incentivos para as culturas intensivas e superintensivas, nomeadamente o olival e
o amendoal.
Referimo-nos ainda à mineração em mar profundo, quando, face aos impactos ambientais negativos, até a
própria União Europeia defende uma moratória internacional a esta mineração, e, por fim, à construção da
barragem no rio Ocreza, que, para além das consequências que provocará para os ecossistemas e para as
comunidades ribeirinhas, ainda surge como uma espécie de alternativa aos esforços do Governo para rever a
Convenção de Albufeira.
Sucede que procurar recuperar a economia sacrificando os nossos valores ambientais é procurar tapar um
buraco abrindo outros buracos, que nem mesmo a mais potente bazuca conseguirá regularizar.
Sabendo que a preservação dos nossos valores ambientais é absolutamente decisiva para a nossa
resiliência coletiva, Os Verdes defendem que uma visão estratégica para o futuro exige, antes de mais, opções
sustentáveis que não comprometam, que não hipotequem, o futuro que se pretende assegurar.
Bem sabemos que há, neste plano, sinais, ao nível da agricultura, para a proteção da biodiversidade, assim
como a intenção de restaurar ecossistemas degradados, o que, aliás, registamos com agrado, mas também
sabemos que nada se refere no plano quanto à conservação da natureza que não está ainda degradada. Ou
seja, tapa-se de um lado para destapar do outro, e isso não chega para se falar em sustentabilidade. O que se
impõe é recuperar o que está degradado e preservar o que ainda não está degradado.