I SÉRIE — NÚMERO 13
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Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O País vai receber, neste ano, no próximo ou algures durante a Legislatura, um valor nunca antes visto em Portugal, que será, mais ou menos, à volta de
15 mil milhões de euros. Nunca na história do nosso País foi tão importante que a transparência fosse tão
efetiva.
Pois é precisamente neste momento, em que a transparência mais é necessária, que o País se afunda
numa amálgama de confusões legislativas nesta matéria. O relaxamento das regras de contratação pública,
que permitirão ajustes diretos e regras flexíveis para todos e para o seu contrário, para quem quiser dar ou
vender, mostra bem o perigoso caminho que estamos hoje a seguir.
A diminuição dos vistos do Tribunal de Contas para muitas das obras públicas que vão iniciar-se,
apresentadas como investimento público, transmitem um dos sentimentos de maior insegurança da nossa vida
pública. Mas também — por que não dizê-lo, hoje, aqui nesta Câmara? — a substituição de diretores da
Polícia Judiciária por elementos vindos do Ministério da Justiça deveria merecer, pelo menos, a atenção desta
Câmara, no âmbito da luta contra o crime. Quem são? De onde vieram? Por que razão são substituídos os
diretores da Polícia Judiciária, numa altura em que tanto dinheiro vai chegar a Portugal?
O afastamento do Presidente do Tribunal de Contas, apresentado como algo natural, vinculativo do
Presidente da República e do Primeiro-Ministro, quando, uns meses antes, tinham reconduzido a Inspeção-
Geral da Administração Interna, mostra bem que o critério nada tem que ver com política, nada tem a ver com
acordos com o Presidente da República. O critério tem a ver com isto: quem se mete com o PS, leva, e quem
se mete com o Governo, vai embora para casa. Esse tem sido o critério e esta vai continuar a ser a regra,
enquanto esta Câmara, que é a única que pode fazê-lo, não mandar abaixo esta iniciativa autoritária de
António Costa.
A Procuradoria Europeia viu-se dispensada de uma magistrada que tinha ficado em primeiro lugar e que foi
não conduzida mas, sim, afastada por um outro que estava em segundo lugar. E o País assiste, impávido,
como se tudo isto fosse normal. É como se o País já não se importasse, para lá das câmaras e das
manchetes, com aquilo que faz e com aquilo que diz. Mas, lá fora, as pessoas continuam a ver e a sentir que
cada passo que damos é um passo novo para o precipício de corrupção que, daqui a seis meses, vamos estar
a apontar ao Governo, enquanto a esquerda vai virar os olhos, alguma direita vai envergonhar-se e os
portugueses vão dizer: «mais do mesmo», «o mesmo de sempre», «estivemos cá e não avisámos». É o
mesmo caminho que já vimos em 2009, em 2011, em 2001, mas não aprendemos que é um caminho que
temos de arrepiar.
Quando olhamos para este Orçamento, percebemos que aqueles que diziam que iam agora fazer a grande
luta pela transparência nada fazem, neste Orçamento. E não é preciso o Chega para falar na duplicação de
gastos da Assembleia, do Presidente da República, e para que, à noite, o Presidente da República vir
desmentir essa mesma duplicação, basta olhar para o Orçamento e ver que não há nenhum reforço para
aqueles que lutam pela transparência e contra a corrupção. Essa é a verdade inadiável que Portugal tem de
enfrentar! Não há um único cêntimo a mais para aqueles que lutam contra esse fenómeno tão perigoso, tantas
vezes aqui anunciado, que é a corrupção.
Portugal desce no ranking europeu de transparência, descemos em todos os rankings de corrupção e,
mesmo assim, o nosso Orçamento fica-se pela metade, que é o mesmo que dizer que metade de zero
equivale a zero.
Perante isto, o Presidente da República olha para o lado e diz que nada tem a ver com o que está a
passar-se e alguma oposição prefere não comentar. Numa palavra, «venezuelização» — é isso que está a
acontecer em Portugal!
Enquanto uns se riem e acham que talvez seja um caminho possível, enquanto outros acham que está tudo
bem, um dia, daqui a alguns meses, vamos estar nos jornais a comentar o que podíamos ter evitado e não
evitámos.
Que ninguém tenha dúvidas: António Costa não está para ficar. Mais mês, menos mês, este Governo vai
cair, porque não há um único governo socialista, na história do País, que, em crise, se tenha aguentado mais
do que um ano e meio. Aqueles que acham que António Costa vai seguir até ao fim, com crise ou sem crise,
com desemprego ou sem desemprego, desenganem-se, porque não vai acontecer!