I SÉRIE — NÚMERO 13
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E é aqui que cada um se revela. Na Europa, revelou-se uma líder, humanista, combativa, solidária,
determinada em não deixar ninguém para trás.
Neste momento de balanço do estado da União, também se revelam os países que acreditam numa União
Europeia que, acima de regras comuns, é uma união de partilha de valores. E é isso que está em jogo, hoje,
nas negociações sobre o quadro financeiro que permitirá, nesta adversidade, a cada país por si, com a sua
identidade própria e o seu percurso histórico, não apenas resistir e minimizar os efeitos do vírus, mas, acima
de tudo, preparar o futuro das próximas gerações.
Também entre nós o momento é de revelação. Como em todo o mundo, fomos apanhados por uma crise
que interrompeu o nosso percurso de crescimento económico e de emprego, de estabilidade das famílias, de
consolidação das contas públicas e, não menos importante, de recuperação da nossa credibilidade no plano
europeu e internacional. E, essa credibilidade, a COVID-19 não a destruiu.
Se há uma década fomos arrasados pela crise das dívidas soberanas, hoje, a nossa credibilidade permitiu,
pela primeira vez, a emissão de dívida a oito anos com uma taxa de juros negativos. Por outras palavras, os
mercados financeiros pagam para emprestar dinheiro ao Estado português.
Entre nós, também tivemos um tempo em que decidimos o nosso quadro financeiro, para 2021,
estruturalmente interligado ao nosso compromisso de também não deixamos ninguém para trás e de
prepararmos o futuro, na linha da agenda ecológica digital assente num modelo social europeu.
Também aqui será um momento de revelação de quem consegue estar, ou não, à altura da
responsabilidade histórica. Nem na Europa, nem entre nós, é tempo de tudo ou nada. O Governo tem
demonstrado a sua capacidade de diálogo, enquanto ator ativo na construção de um consenso europeu, em
torno do fundo de recuperação e de resiliência, e do Quadro Financeiro Plurianual. Contribuímos para que os
Estados-Membros mais atingidos pela crise possam iniciar a sua recuperação. Esperemos, pois, que no
momento em que Portugal assume a Presidência da União Europeia, num momento crucial para o futuro da
Europa, não estejamos a viver com duodécimos e a adiar a nossa recuperação.
Termino, Sr. Presidente, com uma palavra de congratulação pela escolha do nome de Mário Soares para
patrono do novo ano académico do Colégio da Europa.
No momento que discutimos o futuro da Europa e o nosso próprio futuro, é bom recordar sempre aqueles
que abriram o nosso caminho. Seguramente, Mário Soares deixou-nos esse legado.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Capoulas Santos.
O Sr. Luís Capoulas Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaria de me pronunciar sobre a Presidência portuguesa
do Conselho da União Europeia, começando por registar, com apreço, a primazia dada ao Parlamento para a
apresentação das suas linhas gerais.
Portugal é, hoje, um país respeitado na Europa e no mundo pelos valores universais que defende e pratica,
e, desde logo, a defesa intransigente do Estado de direito, pela capacidade de acolhimento de refugiados e
imigrantes, pela boa e laboriosa integração das suas comunidades radicadas noutros países, que são tantas,
em tão diferentes latitudes.
É, portanto, uma boa noticia para os cidadãos da Europa, a assunção, pelo nosso País, da Presidência do
Conselho, num momento tão problemático quanto esperançoso.
Nunca, porventura, em mais de três décadas de integração europeia, as prioridades portuguesas, que o Sr.
Ministro acaba de elencar, estiveram tão alinhadas com as prioridades da União Europeia, já suficientemente
confirmadas no Programa do Trio de Presidências e da troica parlamentar.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista, e, estou certo, a esmagadora maioria deste Parlamento,
partilha e subscreve as prioridades da futura Presidência do Conselho da União Europeia. Desde logo, a
atenção e o empenho concedidos à recuperação económica num contexto de emergência social, inseparável
da forte aposta nas vertentes ecológica e digital, assim como, quanto à agenda externa da União, a atenção
especial concedida às relações com África, com a India, com a relação transatlântica e com a América Latina.