15 DE OUTUBRO DE 2020
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Em primeiro lugar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Fabíola Cardoso.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Fabíola Cardoso (BE): — Muito obrigada, Sr. Presidente. Começo por cumprimentar o Sr. Ministro, os Srs. Secretários de Estado e as Deputadas e Deputados
presentes.
O estado de saúde da União Europeia, a três meses da Presidência portuguesa, é preocupante. Não me
refiro apenas aos números de infetados pela COVID-19, mas a problemas prévios que, agravados pela
pandemia, enchem de nuvens o horizonte.
Apesar dos discursos otimistas da Presidente Ursula von der Leyen, a União vive a maior crise de sempre:
o desemprego e as quebras de rendimentos dispararam. Nos últimos seis meses, o número de inscritos nos
centros de emprego, em Portugal, aumentou 30%; a pobreza ganha terreno, afetando especialmente as
crianças e o seu acesso à educação, inclusivamente na Alemanha; a emergência climática continua à solta,
apesar da proposta aprovada pela esquerda no Parlamento Europeu; o Estado de direito recua a Leste, numa
deriva autoritária inaceitável, colocando minorias e o próprio projeto europeu em perigo. Nas fronteiras da
União são aprisionados ou empurrados de volta para o inferno milhares de seres humanos, em Lesbos, mas
também no Quartel de Tavira ou em Custóias.
Precisamos de uma outra Europa, uma Europa que se atreva, neste momento dramático, a atacar não só
os sintomas mas a própria raiz dos problemas, incentivando alternativas transformadoras do sistema que nos
trouxe até aqui. Só assim poderemos reconstruir a Europa face a esta calamidade, para a qual as políticas
neoliberais dos últimos anos nos deixaram tão pouco preparados.
Precisamos da transição para uma sociedade em que o trabalho e o cuidado sejam reconhecidos como a
base de criação de riqueza. Uma mudança que deve ser ecológica e digital, mas no essencial socialmente
justa e inclusiva — uma Europa para as pessoas e não para o lucro.
Sr. Ministro, irá a Presidência portuguesa incentivar esta mudança do modelo de desenvolvimento de que
necessitamos para uma Europa para as próximas gerações, priorizando o social sobre o económico, a
sustentabilidade ambiental sobre o lucro imediato, as pessoas sobre as grandes empresas ou continuaremos
como até aqui, Sr. Ministro?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, na sequência, a Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Muito obrigada, Sr. Presidente. Boa tarde, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Nem a discriminação racial nem a luta antirracista são um
fenómeno novo, mas conheceram, nos últimos tempos, um novo fôlego político e mediático.
Em setembro, por ocasião do discurso sobre o estado da Nação, a Presidente da Comissão Europeia
anunciou um plano de ação da União Europeia contra o racismo. Não sendo um documento perfeito,
representa um marco histórico no reconhecimento do racismo estrutural como um problema europeu que afeta
milhões de pessoas em toda a Europa.
Entre as medidas apresentadas, inclui-se a recomendação para os Estados-Membros implementarem
planos de ação nacionais de combate ao racismo, uma proposta que o Bloco de Esquerda já apresentou e que
foi aprovada nesta Casa.
O Governo anunciou um plano nacional de combate ao racismo e à discriminação racial. Pergunto-lhe, Sr.
Ministro: é desta que o Governo vai passar da propaganda à ação? Vai responder à urgência e dar verdadeira
centralidade política ao combate ao racismo? Já não podemos esperar mais.
Pergunto-lhe ainda: vai o Governo, na elaboração do plano nacional, promover a participação das
organizações antirracistas, como recomenda a Comissão?
Outra questão: em 2008, a Comissão apresentou ao Conselho a Diretiva 426, para a aplicação do princípio
de igualdade de tratamento entre as pessoas, independentemente da sua religião ou crença, deficiência, idade