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24 DE OUTUBRO DE 2020

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O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Como também não vemos razões para celebrar um ajuste orçamental assente, essencialmente, como foi, numa carga fiscal máxima, num investimento público mínimo, nuns serviços

públicos no mínimo, no bónus dos juros historicamente baixos e nos dividendos do Banco de Portugal.

Sinceramente, não podemos. Ninguém pode.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PCP, pelo que tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Duarte Alves.

O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: A discussão da Conta Geral do Estado de 2018, no dia em que iniciamos a discussão do Orçamento do Estado para 2021,

permite-nos fazer um exercício importante para a discussão que vamos ter hoje à tarde e nos próximos dias.

Permite-nos fazer um contraponto entre a realidade do País em 2018 e a realidade que vivemos atualmente

em resultado da pandemia e da situação económica e social que se instalou.

No Orçamento do Estado para 2018, registaram-se avanços importantes, associados à iniciativa do PCP,

que continuaram o caminho de reposição de rendimentos e direitos que tinham sido retirados ao povo português

pelo Governo PSD/CDS. Avanços que foram fundamentais para alcançar os resultados económicos

conseguidos.

Em 2018, registaram-se medidas como a dos aumentos extraordinários de pensões; a do apoio extraordinário

aos desempregados de longa duração; a da reposição por inteiro do subsídio de Natal e de férias; a da reposição

de direitos na Administração Pública, com o pagamento por inteiro das horas extraordinárias; a da eliminação

dos cortes no subsídio de desemprego; a do alargamento da gratuitidade dos manuais escolares. Medidas como

a do aumento dos escalões de IRS (imposto sobre o rendimento das pessoas singulares) ou a do aumento do

mínimo de existência levaram a uma redução efetiva do imposto, e hoje é preciso cumprir com os compromissos

assumidos a nível do IRS, para um alívio real da tributação sobre rendimentos mais baixos e intermédios.

Em 2018, o aumento do salário mínimo nacional, ainda que limitado, não levou a um maior desemprego ou

a falências. Pelo contrário, foi o aumento dos rendimentos, por via dos salários, das prestações sociais, da

política fiscal, que contribuiu decisivamente para dinamizar a economia nacional.

Também agora, tem de ser pela valorização dos rendimentos de quem trabalha ou trabalhou que se responde

à situação que vivemos.

Mas podem retirar-se outras lições de 2018 para a atualidade.

Tal como em 2018 houve garrotes a avanços mais decisivos, também em 2020 registamos um conjunto de

limitações que são agora ainda mais evidentemente incompatíveis com as respostas necessárias à situação do

País.

O investimento público não pode continuar a ser a variável de ajustamento utilizada pelo Governo para

cumprir com a sua obsessão pela redução acelerada do défice.

Em contabilidade nacional, o Orçamento para 2018 previa um investimento público de 4500 milhões de euros.

Diz-nos a Conta Geral do Estado que o investimento foi, afinal, de 3800 milhões de euros, o que representa

mais de 700 milhões de euros de diferença. E é nestes 700 milhões que vemos a diferença entre o défice previsto

pelo Governo, de 0,7%, e o défice de 0,4% atingido no final do ano. Ou seja, a margem orçamental decorrente

de uma situação económica positivamente influenciada pelas medidas de recuperação de rendimentos foi

canalizada não para o investimento público, onde ele fazia falta, mas para a redução acelerada do défice. Teria

sido muito mais útil investir essa margem no SNS, na escola pública, nas infraestruturas, no apoio à produção

nacional, para que o País estivesse hoje em melhores condições.

Mas também temos lições para tirar ao nível das PPP (parcerias público-privadas), que, no parecer do

Tribunal de Contas sobre a Conta Geral do Estado, são apontadas como tendo grandes discrepâncias entre

aquilo que são os encargos públicos e os encargos privados. E essa desproporção continua em 2020, sobretudo

se olharmos para as PPP rodoviárias, onde, mesmo em tempo de confinamento, se mantiveram os lucros das

grandes concessionárias, à custa dos recursos públicos, o que teria sido resolvido se as propostas do PCP

tivessem sido aprovadas.