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I SÉRIE — NÚMERO 19

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Ao contrário do que sucedeu na última crise, o Estado não irá agravar uma situação económica débil,

demitindo-se de apoiar a economia ou bastando-se com reduzir impostos. Pelo contrário, o Estado dispõe-se a

aumentar a despesa, a transferir recursos para a economia e a estimular a atividade económica, assumindo a

vocação contracíclica deste Orçamento.

A segunda nota prende-se com os instrumentos à nossa disposição para o combate à crise. Os Srs.

Deputados discutiram a proposta de Orçamento e encontraram nela faltas e insuficiências, dizendo que faltaria,

sobretudo, apoio à economia. É normal, pois o Orçamento do Estado para 2021 não esgota os instrumentos à

disposição do País para o combate à crise. Os Srs. Deputados esqueceram, desde logo, a possibilidade de as

empresas recuperarem integralmente os prejuízos fiscais, incorridos em 2020 e 2021, nos 12 anos seguintes,

uma medida já aprovada no Orçamento Suplementar de 2020. Trata-se de uma medida que, por si só,

corresponde à mais significativa redução do esforço fiscal das empresas nas últimas décadas, que terá impacto

não em 2021, mas ao longo dos próximos anos, quando as empresas regressarem à atividade.

Aplausos do PS.

Mas, por outro lado, para além dos recursos nacionais de que o Orçamento é expressão, Portugal conta com

um conjunto inédito de recursos da União Europeia para o combate à crise. Entre esses recursos está o

programa Next Generation EU, que inclui o instrumento de recuperação e resiliência europeu. Para Portugal,

este programa transfere cerca de 15 mil milhões de euros em subvenções, já a partir do próximo ano. E temos

ainda o envelope nacional do programa Invest EU, a ser canalizado para as empresas, através do Banco

Português de Fomento. Todas estas são verbas que, ao serem disponibilizadas aos Estados-Membros sem

contrapartida nacional e sob a forma de subvenções, permitem apoiar a retoma sem disparidades entre países

nas condições de financiamento no mercado.

Junte-se a estes instrumentos o programa SURE, que financia as respostas dos Estados-Membros à crise

sanitária e social, designadamente em programas para a manutenção do emprego. No PRR, constam recursos

para ajudar as empresas a recuperar o seu papel como criadoras de emprego e de investimento, após a

normalização da economia. Estamos preparados para mobilizar todos os recursos se a situação económica

assim o exigir para o apoio ao emprego e às empresas.

Perante a retração da procura, cumpre também ao Estado dinamizar a economia, através do investimento

público e, entre outros, iremos financiar investimentos que, servindo objetivos de longo prazo da nossa

comunidade, contribuem, no imediato, para a dinamização das nossas empresas e para a criação de emprego,

como sucede com o investimento em lares e creches, com a melhoria da eficiência energética nos edifícios

privados, com a eliminação de barreiras arquitetónicas nos edifícios públicos, ou com o reforço do parque

habitacional público, que contará com o maior envelope financeiro da história da nossa democracia.

Este é um Orçamento contracíclico, em que a despesa primária aumenta pelo menos 4% relativamente ao

ano transato, adicionando-se a isso os apoios sociais extraordinários. Mas, como vimos, a despesa pública

financiada pelo Orçamento do Estado está longe de esgotar, antes pelo contrário, os recursos que serão

colocados ao dispor da economia para estimular o crescimento económico. Por forma a que esses recursos

sejam utilizados o mais cedo possível, ao serviço dos cidadãos e das empresas, a proposta de lei do Orçamento

do Estado prevê que possa ser antecipada despesa por conta desses fundos logo a partir do início do ano.

A minha terceira nota serve para referir o modo como o Governo propõe que os recursos públicos sejam

mobilizados nos próximos tempos. A proposta de Orçamento do Estado assume uma clara opção de resposta

à crise, e essa opção é determinada pelos valores que perfilhamos. Esses valores são, antes de tudo, os da

solidariedade e da proteção coletiva da dignidade de todos os cidadãos, independentemente das suas

circunstâncias pessoais ou das circunstâncias da economia. Uma sociedade decente mobiliza-se sempre, em

particular em tempos de crise, para proteger os mais frágeis e apoiar aqueles que ficam subitamente privados

do seu trabalho.

Por isso, a proposta de Orçamento reforça o subsídio de desemprego e propõe a criação de uma prestação

social extraordinária, que assegura que aqueles que se veem privados de outras fontes de rendimentos não

ficam abaixo do limiar de pobreza. Houve quem, neste debate, e a este propósito, falasse de subsídios para

quem não quer trabalhar. Que horrível expressão! Estamos a falar de trabalhadores independentes que

deixaram de encontrar no mercado a possibilidade de angariarem o seu sustento próprio e o das suas famílias.