I SÉRIE — NÚMERO 20
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mostram que, afinal, as infeções andam onde o Estado não está com um olhar mais objetivo. Este é um
Estado que confia no discernimento dos endinheirados e que desconfia absolutamente dos indivíduos mais
vulneráveis. Não se pode também concentrar o combate à COVID-19 olhando-se unicamente para o aumento
das infeções. Nós precisamos de garantir o absoluto fortalecimento do SNS, o absoluto fortalecimento dos
rendimentos dos profissionais de saúde, mas também de todos aqueles que o Estado considerar como sendo
trabalhadores essenciais. E precisamos de manter unicamente o enfoque na ideia de que só o reforço da
democracia é que, efetivamente, nos pode garantir a eficácia no combate à COVID-19.
O Sr. Presidente: — Tem ainda a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada não inscrita Cristina Rodrigues.
A Sr.ª Cristina Rodrigues (N insc.): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Começo esta intervenção agradecendo a todos os profissionais da linha da frente pela persistência e pelo
trabalho e também a todos os portugueses que, diariamente, se esforçam por fazer as suas vidas com
normalidade, mas também com os cuidados que a pandemia provocada pela COVID-19 exige.
Chegámos ao momento em que se mostra necessário voltar a recorrer à declaração do estado de
emergência. Importa, no entanto, deixar algumas notas, nomeadamente dizer que importa evitar um novo
confinamento total, a menos que este se mostre absolutamente imprescindível. Em qualquer caso, importa,
desde já, apoiar os cidadãos, especialmente os que se encontram numa situação de especial vulnerabilidade,
os quais não podemos deixar na angústia de não saberem se vão conseguir alimentar as suas famílias. Mas
também temos de apoiar os profissionais de saúde para que estes consigam cumprir as suas funções, manter-
se seguros e ter tempo para os seus, bem como assegurar que têm à sua disposição todos os meios
necessários no combate à pandemia.
Além disso, não podemos focar-nos só no tratamento da COVID-19 e deixar que outras doenças emerjam,
com especial enfoque para as doenças mentais, ou que não seja assegurado o tratamento atempado de
outras doenças por falta de recursos. É preciso promover o teletrabalho e o desfasamento de horários, mas
assegurar também o respeito pela dignidade dos trabalhadores. É preciso reforçar os transportes públicos
para que as pessoas possam deslocar-se em segurança. É preciso promover práticas preventivas, seja o uso
da máscara ou a manutenção do distanciamento social, mas é preciso, também, transmitir confiança aos
portugueses para que estes possam manter as suas vidas dentro da normalidade, tanto quanto possível. É
importante que as pessoas saibam que, respeitando certas condições, é seguro continuar a ir ao mercado, às
aulas, ao teatro ou ao restaurante.
Votar favoravelmente a declaração do novo estado de emergência, como farei hoje, é confiar também que
estes pontos não serão esquecidos e acreditar que este é o caminho necessário para lidar com a atual
situação pandémica.
Termino, desejando a todos que se mantenham seguros e com saúde.
O Sr. Presidente: — Para encerrar este debate, tem a palavra, pelo Governo, o Sr. Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.
O Sr. Ministro da Administração Interna (Eduardo Cabrita): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Pela quarta vez no quadro da nossa história democrática, a Assembleia da República, neste ano, confronta-se
com a apreciação de um decreto da iniciativa do Sr. Presidente da República que mobiliza para uma coesão
de todos os órgãos de soberania e para a mobilização de todos os portugueses na adoção de medidas
proporcionais, adequadas e necessárias que visam salvaguardar a saúde dos portugueses, assegurar a
segurança coletiva, num quadro que permita uma atuação intensa e concentrada, uma resposta adequada por
parte dos profissionais de saúde no respeito pelos direitos, liberdades e garantias.
Esta situação pandémica, que tem assolado, de forma tão intensa, todo o mundo, nomeadamente a Europa
e Portugal, tem consequências cuja dimensão, mesmo em março, no dia 2 de março, quando o primeiro caso
foi detetado no nosso País, ou a 16 de março, quando lamentámos a morte do nosso primeiro cidadão vítima
de COVID-19, ninguém anteciparia. Estamos perto, a nível mundial, de 50 milhões de infetados e registaram-
se, até hoje, 1 milhão e 250 mil mortes.