7 DE NOVEMBRO DE 2020
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também porque o contexto é absolutamente excecional, porventura o mais excecional de sempre, o PAN
abster-se-á na votação desta declaração de estado de emergência.
Não deixamos, contudo, de apelar ao Governo, em nome do consenso nacional necessário nestas
matérias, que, na sua execução, acautele as preocupações que apresentámos e que, numa futura renovação
desta declaração de estado de emergência, a Presidência da República e o Governo evitem os erros, as
incoerências e as insuficiências daquela que hoje votamos.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Se, no primeiro estado de emergência, Os Verdes, apesar das reservas sobre a sua necessidade, acabaram por
dar o benefício da dúvida com a sua abstenção, hoje, Os Verdes têm ainda mais dúvidas e reservas mais
profundas sobre a necessidade de voltar a fazer uso deste mecanismo.
Estas dúvidas e reservas ficam reforçadas, desde logo, quando constatamos que continuamos sem
identificar qualquer contributo palpável da primeira declaração do estado de emergência no combate à
pandemia e também porque consideramos que as medidas que hoje se impõem assumir dispensam o recurso
a um mecanismo tão extremo como é o que agora discutimos.
Bem sabemos que a situação sanitária que vivemos e a proliferação de casos que se continua a verificar
exigem o reforço de medidas urgentes. Portanto, face à gravidade da situação, é imperioso prosseguir e
reforçar as medidas de contenção. Mas importa esclarecer uma coisa, que tem de ficar muito clara: uma coisa
são as medidas de contenção e outra bem diferente é o estado de emergência. Confundir estas duas
dimensões é um erro que importa contrariar, sobretudo se não queremos enganar as pessoas.
Recorde-se que, durante a primavera passada, as medidas mais importantes neste combate foram
assumidas fora do estado de emergência, até mesmo antes de este ser declarado. Refiro-me ao encerramento
das escolas ou ao confinamento voluntário dos portugueses.
Aliás, um estudo de mobilidade recentemente divulgado indica claramente que os portugueses voltaram a
ficar voluntariamente confinados em casa, a níveis registados em maio, sem necessidade de qualquer
declaração de estado de emergência.
De resto, não é o estado de emergência que permite ao Governo dar as respostas que se impõem. Para
que não falte material de proteção aos profissionais de saúde ou camas para os doentes, para dotar o Serviço
Nacional de Saúde de mais profissionais ou para reforçar a sua capacidade de resposta não é necessário o
estado de emergência.
Para além disso, numa situação destas, a declaração do estado de emergência transporta, na perspetiva
de Os Verdes, outro problema que surge quando o estado de emergência acaba ou quando não é renovado: a
partir daí, as pessoas tendem a interiorizar que já está tudo bem e fica a perceção de que já não é necessário
levar as regras tão a sério.
Ora, face a tudo isto, uma vez que, para Os Verdes, não é imperativo que as medidas que se impõe
assumir exijam cobertura do estado de emergência — não sendo este, portanto, o único caminho — e uma
vez que encaramos o estado de emergência como uma solução de fim de linha, Os Verdes vão votar contra.
Numa altura em que já todos percebemos que a proposta vai ser aprovada, seria muito importante que o
estado de emergência não desviasse as atenções do essencial, isto é, da necessidade absoluta de fortalecer a
resposta, desde logo, a nível do reforço do Serviço Nacional de Saúde, que, aliás, já vem tarde, porque há
muito que o Governo devia ter agilizado excecionalmente os processos concursais, tanto para a aquisição de
meios técnicos como para a contratação de profissionais de saúde. Para isso, não é necessário o estado de
emergência.
Mas é também importante criar as condições para que as pessoas possam efetivamente respeitar as
regras. Basta ver como andam os transportes públicos, onde, mesmo querendo, as pessoas não conseguem
objetivamente cumprir as regras de distanciamento social. O mesmo se diga das escolas. Se pretendemos
favorecer a escola presencial, é preciso garantir as condições para que os alunos possam respeitar as regras.
Mas, para isso, não é necessário a declaração do estado de emergência.