I SÉRIE — NÚMERO 20
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Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Todos sabíamos que o «novo normal» provocado pela COVID-19 nos iria impor, com grande margem de
probabilidade, a discussão de um novo estado de emergência ainda durante 2020. Infelizmente, a evolução da
situação epidemiológica obriga a que o tenhamos de fazer mais cedo do que todos queríamos.
As cidadãs e os cidadãos com o sentido de dever cívico têm andado, desde março, à frente de várias
decisões do poder político. Quando havia dúvidas sobre a imposição de um confinamento geral, já uma larga
maioria da população se tinha autoconfinado, estando em teletrabalho e retirando os filhos das escolas. É
óbvio, que aqui ou ali, houve casos isolados de comportamentos menos responsáveis e que puseram em
causa a saúde pública, mas não podemos confundir a árvore com a floresta. Portanto, não se deverá encarar
a imposição de restrições desproporcionais aos direitos fundamentais como a varinha mágica que porá fim ao
atual agravamento da situação epidemiológica.
O problema tem estado também nas incoerências do Governo e do Presidente da República e na facilidade
com que se passa do discurso negacionista para o discurso de pânico e do discurso do confinamento apertado
para o discurso do «saiam de casa e consumam». Precisamos de clareza, coerência e certezas no discurso.
Ficaram por tomar medidas necessárias para evitar que chegássemos ao ponto em que estamos e para as
quais o PAN tem chamado a atenção. Temos dito que é necessário reforçar os recursos humanos, financeiros
e materiais do Serviço Nacional de Saúde e criar um sistema de vigilância epidemiológica eficaz, algo só
possível através do reforço significativo dos especialistas de saúde pública.
Alertámos para o alto risco que existia nos transportes públicos que, após o desconfinamento, voltaram ao
velho normal das carruagens apinhadas, sem que houvesse reforço da frequência dos transportes ou medidas
tão simples como a sinalização de lugares, de forma a garantir o distanciamento entre passageiros.
Alertámos para a necessidade de se tomarem medidas necessárias para não deixar para trás aqueles que
estão desprotegidos. Defendemos a regulamentação do teletrabalho e o reforço dos meios da ACT
(Autoridade para as Condições do Trabalho).
Neste momento, corre-se, inevitavelmente, atrás do prejuízo. A declaração de estado de emergência é
necessária para dar certeza jurídica às medidas que estão a ser tomadas, mas o seu conteúdo podia e devia
ser distinto, mais circunscrito e mais proporcional.
Este decreto traz a visão de que o vírus se propaga com hora e dia marcados e que, por isso, se deverá
impor um recolhimento obrigatório, parecendo que, no resto do dia, o vírus não anda de transportes públicos,
não vai aos locais de trabalho ou poderá ser afastado com meras medições de febre ou com a realização de
testes.
Esta declaração não resolve os problemas dos transportes, não assegura que o teletrabalho com direitos é
aplicado, não protege as empresas, não assegura a efetivação de um sistema de trabalho presencial rotativo,
não garante as condições adequadas nas residências universitárias nem a proteção dos professores em risco.
O caminho deve ser o da solução destes problemas e insuficiências que têm posto em causa a saúde
pública e os direitos fundamentais, não o de medidas de eficácia reduzida.
Não ficamos descansados com o facto de, no âmbito das restrições admissíveis aos direitos à liberdade e à
circulação, não se prever nenhuma salvaguarda dos direitos políticos, algo especialmente preocupante quando
se avizinham eleições presidenciais, o que não seria compreensível em democracia.
Por fim, quanto à requisição civil de trabalhadores do setor público, ou não, esta declaração fá-lo de forma
errada, desde logo pela sua excessiva abertura, que permite a requisição para o trabalho presencial em
qualquer função junto das autoridades e serviços de saúde, fazendo-o em termos que colocam em causa a
saúde das pessoas inseridas em grupos de risco e a própria saúde pública, ao abrir a porta ao incumprimento
das regras da DGS (Direção-Geral da Saúde) quanto ao isolamento profilático.
Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Presidente, porque esta declaração não é clara na
proporcionalidade das restrições de direitos fundamentais previstas; porque não assegura um equilíbrio
compreensível entre as medidas impostas e a limitação do risco de contágio; porque não dá as respostas que
o atual momento exige, especialmente porque coloca o ónus e a penosidade sobre os cidadãos ao mesmo
tempo que desonera as responsabilidades do poder político; porque foi feita à medida do bloco central e