I SÉRIE — NÚMERO 23
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Sr.ª Deputada, nós fomos bastante transparentes com o tema: temos uma situação de imprevisibilidade,
que não existiu nos tempos modernos, e penso que não podemos estar a falar da situação imprevisível e, ao
mesmo tempo, estar a querer tomar medidas que não se coadunam com essa imprevisibilidade.
Aquilo que o Governo fez foi o seguinte: o alívio fiscal, estrutural, que tinha previsto para 2021 em sede de
IRS não pôde ser feito em 2021, mas não deixámos de ter uma medida que é importante e de continuidade
com o que temos vindo a fazer, que é a do ajustamento das tabelas de retenção na fonte para, com o mesmo
valor, devolver a liquidez. Não é uma alteração de imposto, é uma alteração permanente, porque depois não
vamos voltar atrás relativamente a estas tabelas de retenção. Que não haja nenhuma dúvida sobre o
comprometimento que temos com a progressividade do IRS. Mas, Sr.ª Deputada, quem é contra mais
escalões de IRS é o partido a que pertence. Eu não consigo perceber como é que vem aqui dizer o que disse,
depois do histórico que tem — que eu, aliás, até prescindo de lhe recordar — relativamente ao aumento de
impostos!
O que recusaremos sempre é aquilo que o Iniciativa Liberal aqui propõe, que é mais ou menos fazer uma
taxa única de IRS, que apenas beneficia os mais ricos e que tem uma perda de receita que coloca em causa a
capacidade de resposta do Estado. Nós não acompanharemos essa velha bandeira do Iniciativa Liberal, nem
essa bandeira que também o Chega tem. É uma bandeira que terão de aguardar para o momento em que o
PSD decidir fazer maioria com esses partidos e essa taxa única de IRS, que nós recusamos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Srs. Deputados, passamos à apreciação do artigo 226.º — Alteração ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do CDS-PP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, gostaria apenas de dar um esclarecimento sobre o IRS, que creio não ser um esclarecimento porque é do
conhecimento de todos, mas aquilo que perguntei foi pelo alívio fiscal de 200 milhões de euros. Sou contra o
aumento de escalões, acho até idealmente que deveríamos ter menos escalões, mas sou a favor de que haja
um alívio fiscal em IRS, como o Governo também era a favor.
Saliento apenas o seguinte, porque esta é que é a verdade: quando o Sr. Secretário diz que há aqui uma
questão de imprevisibilidade e que nós não podemos, nesta altura, estar a aliviar o IRS porque não temos
margem para isso e não sabemos o que nos espera, eu só lhe digo que essas são as suas prioridades, porque
para tudo aquilo que teve de acordar com o PCP, com o PEV, com o PAN e sabe-se lá mais com quem, teve
margem. Há muitas medidas… Olhe, só no debate na generalidade foram 300 milhões, que é superior a este
alívio fiscal previsto. Essas foram as suas prioridades. Eu estou a dizer-lhe que para o CDS a prioridade seria
a do alívio fiscal em IRS. São prioridades diferentes, e é bom que haja esta clareza para depois todos saberem
com aquilo que contam.
Em relação às empresas e ao IRC, o CDS apresenta — e, aliás, mantém consistentemente — uma
proposta de baixa do IRC. E, sim, neste momento de pandemia, há uma diferença. Por um lado, apresentamos
propostas para apoiar a tesouraria das empresas, o que, traduzido, significa que as empresas continuem a ter
dinheiro para pagar salários. E, Sr.as e Srs. Deputados, o emprego, ao contrário do que alguns aqui parecem
imaginar, não se protege com legislação. O emprego protege-se e mantém-se se as empresas continuarem a
ter dinheiro para pagar salários. Se a sua tesouraria não der para isso, Sr.as e Srs. Deputados, poderão fazer
as leis todas que entenderem, mas garanto que vamos ter um aumento do desemprego, e é esse desemprego
que tem de ser travado. É por isso que é tão vital apoiar a tesouraria das empresas. Por outro lado,
apresentamos medidas para estimular o investimento e o emprego, mantendo, aliás, a redução da taxa de
IRC.
Em relação ao IVA, e porque não terei outra oportunidade para falar nessa matéria, gostava de salientar
que a única proposta de alívio fiscal que temos aqui é o chamado «IVAucher», que está completamente
desatualizado face à situação, porque do que a restauração precisa é de apoios bem diferentes.