27 DE NOVEMBRO DE 2020
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ah!...
O Sr. André Ventura (CH): — Mas não votaremos a favor por uma única razão: porque a proposta está juridicamente mal construída, está juridicamente indefinida e presta um mau serviço ao povo português. De
resto, ao contrário do que faz o Bloco de Esquerda, o Chega assegurará que não tem medo quando tem de
votar seja com o Bloco seja com o PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, para uma intervenção.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, o que está em causa nesta proposta é uma transferência de dinheiro do Fundo de Resolução para o Novo Banco.
É isso que está em causa. E a decisão que estamos hoje a tomar, sim, é séria e, portanto, para além dos
debates, convém que haja alguma serenidade e que façamos aqui alguma história.
A história começou muito antes de 2014 no BES (Banco Espírito Santo), mas importa analisar a venda e o
contrato desta venda. Quando ele foi feito, o Governo de Portugal e o Primeiro-Ministro de Portugal asseguraram
que não havia uma garantia pública e que esta venda não teria impacto, direto ou indireto, nas contas públicas,
nem novos encargos para os contribuintes.
Na altura, o CDS criticou este contrato de venda, alertou para que esta era uma forma de empurrar para a
frente o encargo para o Estado e que este modelo de gestão partilhada de ativos era uma péssima ideia.
O Governo avançou, verificou-se que, de facto, este modelo é uma péssima ideia e que, sim, isto tem, como
é óbvio, impacto, direto e indireto, nas contas públicas e tanto tem que as transferências do Fundo de Resolução
para o Novo Banco têm de ser aprovadas aqui no Parlamento, como se está a ver por esta discussão que
estamos a ter.
Ao longo destes anos nunca deixámos de fiscalizar nem o que se passou no BES nem o que se passou no
Novo Banco. Assistimos nos últimos anos a uma progressiva degradação na praça pública das discussões
relacionadas com o Novo Banco, de tal maneira — e quero lembrar isto — que, em maio deste ano, o Primeiro-
Ministro de Portugal garantiu que não haveria mais ajudas de Estado até que os resultados de uma auditoria ao
Novo Banco fossem conhecidos.
Se é verdade que não foi assim, também é verdade que, na altura, ninguém clamou que poderia estar em
causa um incumprimento contratual. Se o que está agora em causa é o incumprimento contratual, então, quando
o Sr. Primeiro-Ministro disse que não pagava até haver uma auditoria, na realidade, todos os mecanismos de
que se está a falar agora tinham de ser acionados nessa altura.
Portanto, acho difícil que o Governo venha agora utilizar este argumento, porque aquilo que se está a discutir
hoje é, precisamente, o facto de saber se a transferência deve ser autorizada sem que se conheça a auditoria
que, de uma vez por todas, acabe com estas dúvidas acerca da gestão de ativos, que é a mesma coisa que
dizer da venda de ativos, e cuja necessidade o próprio Governo reconhece.
Gostava também de dizer que, sim, há um contrato, que foi assinado pelo Estado português e mesmo quando
os Governos assinam contratos mal negociados e mesmo quando renegam os contratos, como eu vi aqui fazer-
se várias vezes, esse facto tem de ser levado em conta e é, precisamente, por causa desse facto, e, apenas,
por causa desse facto, que o CDS não votou a favor.
Por último, gostava de dizer que há uma solução muito fácil para este assunto e que não implica qualquer
quebra contratual: é a auditoria, que, aliás, já está prometida e já está a ser feita, ser entregue para, de uma vez
por todas, se esclarecerem as dúvidas relacionadas com a venda de ativos. Isto porque ou os ativos não estão
a ser mal vendidos e, então, tudo isto é uma injustiça e o dinheiro tem de ser lá posto em cumprimento do
contrato, ou estão a ser mal vendidos e, então, em cumprimento do contrato, o dinheiro não tem de ser lá posto.
O Governo tem tempo para fazer isso até que chegue a altura de colocar-se a questão da transferência.
Esclarece as dúvidas e o Parlamento cá estará para resolver.
A questão do incumprimento contratual é uma falsa questão. Há espaço e tempo para resolver o assunto
assim haja serenidade e vontade de o fazer.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, para uma intervenção.