I SÉRIE — NÚMERO 26
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Segundo a informação que é pública, este projeto reúne um conjunto de entidades acima de qualquer
suspeita ou preconceito, como sejam cinco autarquias — ou seja, o poder local democrático — e a consultora
do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra. Algumas destas entidades
ofende, provoca, assusta ou transporta em si os piores propósitos? Creio que não. E o nome? Ao arrepio do
que invocam os subscritores da petição hoje em discussão, em local algum é invocado o nome «museu
Salazar», e os nomes são, de facto, importantes. Há nomes, designações ou títulos que matam as mais
nobres intenções e transmitem a mensagem errada. O que pensar de «museu Salazar», ou, pior, de «casa-
museu Salazar», se fosse em casa dele?
A vulgarização do conceito à volta da pessoa física que mais o popularizou correria o risco de provocar o
efeito romagem-homenagem que, estou crente, mais se quer evitar. Mas tudo indica que estamos perante um
conjunto de centros interpretativos que, a par da interpretação e exibição do que foi a I República e o Estado
Novo, enquadram projetos, por exemplo, e aqui com total propriedade, relativos à figura de Aristides de Sousa
Mendes.
Sr.as e Srs. Deputados, ser antifascista e opositor ao Estado Novo antes do 25 de Abril era resistir,
denunciar, suportar a prisão, o exílio, a tortura e até a morte. Ser antifascista depois do 25 de Abril, ser
antifascista em 2020 é não permitir que o Estado Novo se esqueça, se branqueie ou, para usar uma
expressão da moda, se faça de um ditador um ditador fofinho!
Acreditamos na nobreza dos propósitos dos seus promotores, acreditamos na credibilidade das entidades
múltiplas que suportam e enquadram o projeto.
Ficamos com uma preocupação, preocupação essa que não tem ainda resposta, pois o projeto carece de
integral concretização: que públicos pode e deve este centro atrair? Os académicos, as escolas, as novas
gerações e todos os que viveram submetidos ao Estado Novo, ou os que pretendem celebrar, fazendo do local
destino de romagem e homenagem?
Cremos que o maior desafio será certamente o de definir o modelo que faça as escolhas certas para os
propósitos certos que norteiam este projeto.
Termino, com uma palavra justa de homenagem a todos os que combateram o Estado Novo e que
permitiram que eu esteja aqui hoje a dizer o que disse, em liberdade e sem censura ou punição.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A última intervenção cuja inscrição a Mesa regista cabe ao Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: As minhas primeiras palavras são para, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes», saudar os milhares de cidadãos
que subscreveram esta petição, que fizeram uso deste importante instrumento da nossa democracia, que se
quer participada, que é a petição, e que, através dela, nos fazem chegar a sua indignação e repúdio a
propósito da anunciada criação do museu Salazar, com esse ou outro nome, em Santa Comba Dão. E quero
saudar, muito particularmente, os peticionários que estão connosco a acompanhar os trabalhos, e que, apesar
da hora, dão mostras, de facto, de muita resistência, uma saudação que, naturalmente, também queremos
estender à URAP, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, não só por ter dinamizado e promovido
esta petição, mas também por todo o trabalho que, ao longo do tempo, tem vindo a desenvolver em defesa
dos valores da nossa democracia. E, como primeira nota, Os Verdes querem deixar claro que, tal como os
peticionantes, também consideramos que a intenção de criar o dito centro de interpretação do Estado Novo
mais não pretende do que procurar reabilitar a sinistra figura do ditador Salazar e do fascismo, o regime que
oprimiu os portugueses durante quase meio século.
Esta é uma intenção que, a nosso ver, deve preocupar todos os democratas e, mais ainda, uma ofensa aos
portugueses que, corajosamente, contra esse regime lutaram, em defesa da liberdade, da democracia, da paz
e da justiça social e uma ofensa, mais sentida ainda, à memória dos milhares de vítimas do regime fascista.
Mas trata-se ainda de uma intenção que não só nada tem a ver com os valores que norteiam o nosso quadro
constitucional, bem pelo contrário, como ainda, em concreto, entra, grosseira e frontalmente, em conflito com o