I SÉRIE — NÚMERO 27
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Portanto, para decidir, neste momento, se viabilizamos ou não um novo estado de emergência e se votamos
ou não a favor deste, há duas questões essenciais. Primeira questão: havia alternativa a este recurso
permanente ao estado de emergência? Do nosso ponto de vista, claramente havia, se o Governo tivesse
legislado e clarificado regras. Se o Governo, com o tempo que teve, tivesse vindo ao Parlamento validar as
soluções que queria aplicar, não tínhamos de estar sempre a recorrer ao estado de emergência. Segunda
questão: não tendo o Governo feito o que devia fazer, é possível responder sem recorrer ao estado de
emergência? Responsavelmente, temos de dizer que não podemos garantir que seja possível dar essa resposta,
dado que é incompetência do Governo.
Portanto, do nosso ponto de vista, o Governo não fez o que devia, o Governo não é credor da nossa confiança
e, por isso, não poderemos passar um cheque em branco a este novo pedido de declaração do estado de
emergência.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo: Hoje, ninguém duvida que, apesar de termos assumido a COVID-19 como um «novo normal» nas
nossas vidas, o País continua a viver uma emergência sanitária, que exige medidas equilibradas, ponderadas,
proporcionais e com foco na eficácia.
Estima-se que 1 milhão de cidadãos já estiveram em contacto com o vírus. Apesar de, aparentemente, o pico
da segunda vaga ter sido atingido no mês de novembro, chegamos a dezembro, o mês do convívio familiar por
excelência, com um cenário em que, numa refeição à mesa com cinco pessoas, a probabilidade de contágio é
de 20% e de 45% se forem 10 pessoas.
Face aos riscos do mês de dezembro, temos de tomar medidas de salvaguarda do Serviço Nacional de
Saúde que, particularmente ao nível dos cuidados intensivos, está sob alta pressão devido ao pico da segunda
vaga, mas, sobretudo, temos de procurar salvaguardar aqueles que nos são mais próximos. Não podemos
cometer os erros que vimos acontecer na República Checa e na Holanda, que tomaram medidas eficazes de
confinamento e reduziram grandemente o número de infetados, mas que, ao levantarem demasiado
rapidamente as medidas restritivas, deitaram por terra todos os esforços feitos, levando a um novo e expressivo
aumento do número de infeções.
O PAN compreende a necessidade de restrições de mobilidade e de contactos, fundamentais ao
recrudescimento da infeção, mas também entende que o recolher obrigatório nos termos em que tem sido
imposto, ainda que esteja a contribuir para a contenção do vírus, tem, no entanto, levado à asfixia dos setores
dos serviços e da restauração, que, se estavam mal, pior ficaram.
Por isso, daqui apelamos ao Governo que se preocupe com a emergência sanitária, mas que
complementarmente adote medidas racionais e equilibradas que evitem que a emergência social e económica
resulte numa crise aguda de caráter socioeconómico. O que se exige é claro: a adoção de medidas que
contribuam para uma efetiva contenção e redução de contactos, com horários que permitam o funcionamento
do setor da restauração e dos serviços, com regras de segurança, em articulação com um mecanismo de apoio
direto, a fundo perdido e sob a forma de prestação única, que permita a estes setores responderem às respetivas
necessidades de tesouraria.
O PAN propôs a criação desse apoio com um valor correspondente a 50% da perda de receita média de
faturação verificada, comparativamente com o registado em 2019, mas tal proposta foi chumbada, na semana
passada, com os votos contra do PS e a abstenção do PSD e do Iniciativa Liberal. Apelamos, porém, ao Governo
que, de forma sensata, acolha, urgentemente, esta medida. E pedimos sensibilidade para com os empresários
que, por todo o País, estão a desesperar a cada dia.
Nesta ocasião, não podemos deixar de sublinhar que se a última declaração do estado de emergência teve
efeitos negativos claros na economia, no tocante ao recolher obrigatório, a verdade é que noutros casos temos
visto que há disposições que não têm saído do papel, como é o caso do teletrabalho, que é obrigatório na lei,
mas que, na prática, não se está a cumprir na vida das pessoas e das empresas. O que vai o Governo fazer