5 DE DEZEMBRO DE 2020
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para assegurar a efetividade destas disposições? Pelo que espera para assegurar uma ACT (Autoridade para
as Condições do Trabalho) com capacidade de ação?
Este estado de emergência surge-nos, pela primeira vez, sob o espectro da esperança de uma vacina que
chegará em breve. E, neste contexto, também não podemos deixar de alertar o Governo para três preocupações.
A primeira preocupação é com a necessidade de se começar a preparar, desde já, um sistema eficaz de
monitorização dos efeitos da vacina em todas as pessoas a quem venha a ser ministrada, uma vez que é sabido
que, como os especialistas defendem, estamos longe de conhecer tudo sobre este processo, nomeadamente
duração da proteção e efeitos secundários no curto e médio prazo.
A segunda preocupação que deixamos ao Governo é com a circunstância de, em articulação com as
organizações não-governamentais e as organizações da economia social, se poder assegurar o acesso à vacina
e o acompanhamento das populações socialmente mais vulneráveis.
A terceira preocupação passa pela urgência de o Governo acolher as medidas que a Interpol e a Europol
recomendam e não ignorar os riscos de corrupção e criminalidade associados à vacina.
Nas próximas semanas é prioritário evitar a infiltração de redes internacionais criminosas nos circuitos de
distribuição da vacina e de medicamentos, combater a falsificação de vacinas, impedir a compra e venda de
vacinas na internet, sensibilizar os cidadãos para não recorrerem a circuitos paralelos de aquisição da vacina e
combater, sem complacências, as potenciais burlas de vacinas distribuídas porta a porta.
O Sr. João Oliveira (PCP): — O PAN apoia a Ana Gomes!
O Sr. André Silva (PAN): — Nas semanas que antecedem a chegada da vacina exige-se ação e prevenção, para que não vejamos, novamente, o poder político falhar ou chegar tarde, como chegou à segunda vaga.
Neste estado de emergência, o Governo e o Presidente da República preferiram a zona de conforto do bloco
central a uma lógica de unidade nacional e de consenso alargado e optaram por um estado de emergência sem
adesão à realidade e às necessidades efetivas das empresas, das pessoas e do País. De forma desproporcional,
optaram por um estado de emergência sanitária que não dá garantias claras que evitem que se caminhe a
passos largos para uma catástrofe económica e social.
Por isso mesmo, e face à falta de equilíbrio e proporcionalidade das medidas propostas, o PAN abster-se-á
na votação da declaração do estado de emergência.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A Assembleia da República volta hoje a ser convocada para se pronunciar sobre o prolongamento do estado de
emergência, que, sendo um instituto integrante do nosso quadro constitucional, não deixa, no entanto, de ser
encarado, até do ponto de vista da Lei Fundamental do País, como uma solução de fim de linha, ou seja, só
suscetível de ser utilizado quando todos os outros caminhos legais e constitucionais falham nas respostas que
se pretendem com o recurso a este mecanismo extremo.
E, mais uma vez, esta Assembleia é chamada a decidir sobre a renovação, ou não, do estado de emergência,
que, tal como há duas semanas, pretende prolongar o quadro legal extraordinário para permitir ao Governo
tomar medidas, também extraordinárias, para combater a pandemia provocada pela COVID-19.
Ora, perante estas constatações, o que importa apurar é se o prolongamento do estado de emergência é
mesmo necessário e imprescindível para o combate à pandemia ou se, pelo contrário, o nosso ordenamento
jurídico dispõe dos mecanismos legais que permitam proceder a esse combate, sem necessidade de recorrer a
um estado de exceção. Esta é, para nós, a questão central.
Tal como considerámos há duas semanas, as medidas que, de facto, se impõe assumir para travar a
pandemia continuam a dispensar o recurso a este mecanismo extremo e, por isso, Os Verdes vão votar contra
a renovação do estado de emergência. E votamos contra porque, sendo verdade que é ainda cedo para perceber
os eventuais contributos no combate à pandemia da declaração do estado de emergência atual e da sua
renovação, também é verdade que, depois deste tempo todo, continuamos sem identificar qualquer contributo
palpável, nesse combate, decorrente da declaração do estado de emergência da primavera e das suas
renovações.