5 DE DEZEMBRO DE 2020
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O Bloco de Esquerda diz hoje o mesmo que disse nos dois anteriores debates que tivemos sobre esta
matéria: não faltarão ao Governo os mecanismos necessários para fazer frente à pandemia.
Sabemos que as restrições de liberdades e de direitos, que afetam não só as pessoas mas também a
atividade económica, têm lançado dificuldades no País. Não ignoramos e apoiamos essas reivindicações de
quem olha para o Governo e diz que as restrições devem ser acompanhadas de apoios à economia e que há
setores fragilizados que precisam de respostas. O Governo tem anunciado apoios, mas tem tardado a
implementá-los.
Creio que este apoio que o Parlamento tem dado ao Governo, para que não lhe faltem os mecanismos
decorrentes do estado de emergência, tem, necessariamente, de ser secundado pela implementação das
necessárias medidas para o setor da economia e para as pessoas, de modo a responder às dificuldades que
enfrentam neste período.
Em nome do Bloco de Esquerda, queria repudiar uma expressão que foi aqui dita hoje, porque, quando
falamos da dificuldade das pessoas, não devemos utilizá-las como meros instrumentos para a demagogia
política. Quando, há minutos, o Sr. Deputado André Ventura, sobre um setor de atividade que se encontra em
dificuldades, como é o caso do setor da restauração, se referiu à luta desse setor como um «circo», creio que
demonstra bem como há oportunistas em todo o lado, à espreita, que vivem da desgraça dos outros em nome
do seu benefício político. Isso é inaceitável neste contexto e, da parte do Bloco de Esquerda, tem todo o nosso
repúdio.
Aplausos do BE.
Devemos, sim, ter uma atitude responsável perante o País e perante as pessoas, não ignorando a dificuldade
das suas vidas e tentando encontrar as soluções para os seus problemas.
Desse ponto de vista, insisto neste ponto, Sr. Primeiro-Ministro: é ao Governo, em primeiro lugar, que cabe
apresentar as soluções para as medidas de restrição de liberdades e de circulação que hoje serão aprovadas.
Da parte do Bloco de Esquerda, consideramos que é necessário haver uma outra vertente, que tem tardado
e não pode faltar. Sabemos que já se anuncia que uma vacina chegará ao País e que começará a ser
administrada no próximo mês de janeiro, mas sabemos também, e isso deve ser repetido, que esse processo
demorará meses, pelo que as necessárias medidas de contenção da pandemia têm de ser uma responsabilidade
individual e coletiva. Não podemos baixar os braços mesmo durante esses meses da vacinação.
Mais: é na comunicação que, muitas vezes, conseguimos sensibilizar as pessoas para o cumprimento destas
medidas. Se há coisa que o País nos tem ensinado a todos, mesmo àqueles que achavam que a lei devia ser
draconiana para com as liberdades individuais, é que a responsabilidade individual tem demonstrado estar à
altura dos acontecimentos. Por isso, uma estratégia de comunicação que explique que não podemos diminuir
os nossos cuidados em relação ao contacto com os outros, mesmo em espaço familiar, mesmo no período
festivo que vamos viver, é fundamental. Se vemos isso em tantos outros países, é estranho que ainda não tenha
acontecido em Portugal também. Creio que esta é uma das medidas que o Governo poderia colocar em cima
da mesa.
Como disse, viabilizámos estados de emergência anteriores e damos agora ao Governo, novamente, essa
possibilidade.
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Termino, Sr. Presidente. Que não faltem estes mecanismos para que, não só na área da saúde pública mas também na da economia,
o Governo não falte ao País, neste período exigente.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira, do Grupo Parlamentar do PCP.