I SÉRIE — NÚMERO 27
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O Sr. Ministro da Administração Interna: — É um exercício de apoio à economia, de solidariedade com aqueles que sofrem nos setores mais diretamente atingidos. Como veremos no debate seguinte — e os
resultados estão à vista —, este foi um período em que estivemos já a trabalhar pela saúde, mantendo o respeito
pelas liberdades fundamentais, para que a pandemia não ponha em causa a democracia.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Chegamos, assim, ao final deste ponto da ordem do dia. Passamos agora ao debate sobre a renovação da autorização, solicitada pelo Presidente da República, para
a declaração do estado de emergência.
Como sabem, foi recebido ontem e distribuído atempadamente o projeto de decreto do Sr. Presidente da
República, de que vos passo a ler o primeiro parágrafo, poupando-vos à leitura dos restantes:
«A situação de calamidade pública provocada pela pandemia COVID-19, com números de infetados e de
falecimentos ainda muito elevados, muito embora se verifique uma evolução da tendência de descida, com
redução da taxa de crescimento desses números, mas com os claros riscos de agravamento em caso de
diminuição das medidas tomadas para lhe fazer face, como alertado pelos peritos e pelo Centro Europeu de
Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), exige a renovação da declaração do estado de emergência, para
consolidar a atual trajetória.»
Para abrir o debate, em nome do Partido Socialista, tem a palavra a Sr.ª Deputada Constança Urbano de
Sousa.
A Sr.ª Constança Urbano de Sousa (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro e demais Srs. Membros do Governo: Hoje voltamos a discutir o estado de emergência, pois, infelizmente,
continuamos a necessitar de medidas que contribuam para evitar a propagação da COVID-19.
Como se pode ler no preâmbulo do projeto de decreto do Sr. Presidente da República, as medidas duras
adotadas ao abrigo do estado de emergência contribuíram para melhorar os indicadores da evolução da
pandemia, em especial o risco de transmissão da doença, que regista uma tendência de descida.
A esta notícia animadora soma-se a esperança de termos em breve uma vacina segura, eficaz e validada
pela Agência Europeia de Medicamentos, em especial a da BioNTech, em cooperação com a Pfizer, já
autorizada no Reino Unido. Quis o destino, ou a sua ironia, que esta vacina promissora tivesse sido desenvolvida
pela empresa alemã de um casal de cientistas e imunologistas, Ugur Sahin e Özlem Türeci, filhos de imigrantes
turcos na Alemanha, um país europeu onde a AfD, Alternative für Deutschland, uma espécie de irmão do Chega,
obtém ganhos eleitorais com o discurso binário e fraturante do «nós» e «os outros», que alimenta o ódio contra
as minorias étnicas e religiosas. Em boa hora a Alemanha acolheu estes turcos, que deram origem a este casal
alemão, pois, graças ao seu talento e à sua competência, teremos acesso a uma vacina que nos pode livrar, a
todos, do pesadelo em que vivemos.
Aplausos do PS.
No entanto, apesar de os dados serem mais animadores, de a vacina estar mais próxima e de já termos,
desde ontem, um plano de vacinação, não nos deixemos iludir: a situação pandémica é ainda grave e não
podemos agora baixar a guarda e deitar tudo a perder, pois, infelizmente, todos os dias continuam a morrer
pessoas vítimas deste vírus terrível. Mesmo que a Agência Europeia de Medicamentos declare esta mesma
vacina eficaz e segura, o processo de vacinação de toda uma população, ou de grande parte dela, é muito
complexo, faseado, e nunca poderá ser realizado em poucas semanas ou em poucos meses.
Vamos, assim, continuar a precisar de medidas de segurança e de restringir os nossos contactos ao
estritamente necessário para vencer esta pandemia. Também por isso, precisamos de renovar o estado de
emergência para permitir que o Governo mantenha e adote medidas que contribuam para evitar a propagação
do vírus, salvar vidas e, ao mesmo tempo, não matar a nossa economia, à semelhança do que os outros países
europeus estão a fazer.
Sei bem que, a 4 de dezembro, a todos se coloca a questão de saber como é que vamos passar o Natal e o
Ano Novo, épocas festivas de convívio por natureza, que tanto prezamos. Mas não podemos esquecer que estas