I SÉRIE — NÚMERO 27
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Aliás, um regresso à primavera aviva-nos a memória e faz-nos lembrar que as medidas mais importantes
nesse combate foram assumidas à margem do estado de emergência, até mesmo antes de ele ser decretado,
como foi o caso do encerramento das escolas e do confinamento voluntário dos portugueses.
Vamos votar contra porque consideramos que as medidas que se impõem assumir dispensam o recurso a
um mecanismo tão extremo como é o estado de emergência.
Sabemos que a situação sanitária que vivemos exige o reforço de medidas urgentes e, face à gravidade da
situação, é imperioso prosseguir e reforçar as medidas de contenção. Mas, mais uma vez, afirmamos que é
importante não confundir as medidas de contenção com o estado de emergência, porque são realidades
diferentes que não podem, nem devem, ser confundidas.
Portanto, medidas de contenção, sim, reforço das medidas, sim, mas estado de emergência, não.
Vamos votar contra porque não é o estado de emergência que permite ao Governo dar as respostas que se
impõem.
Para que não faltem camas aos doentes e para dotar o SNS de mais meios, mais capacidade nos centros
de saúde e nos hospitais, ou para reforçar a sua capacidade de resposta, não é necessário estado de
emergência.
Para reforçar a proteção das condições de trabalho nos locais de trabalho não é necessário estado de
emergência.
Para agilizar excecionalmente os processos concursais, tanto na aquisição de meios técnicos, como na
contratação de profissionais de saúde, não é necessário estado de emergência.
Para preservar a capacidade de resposta hospitalar à COVID-19 também não é necessário estado de
emergência.
Para criar as condições de forma a que as pessoas possam respeitar as regras, por exemplo nos transportes
públicos — onde, mesmo querendo, as pessoas não conseguem, objetivamente, cumprir as regras de
distanciamento social —, não é preciso estado de emergência.
Se pretendemos favorecer a escola presencial, é preciso garantir as condições para que os alunos possam
respeitar as regras. Mas, para isso, não é necessário estado de emergência.
Por fim, o Governo também não precisa do estado de emergência para explicar muito bem as medidas que
se vão assumindo, porque, se as pessoas não compreendem as razões das medidas que lhes são impostas,
tendem, naturalmente, a desvalorizá-las.
Por mais úteis que sejam as medidas, as pessoas continuam sem perceber, por exemplo, porque é que, ao
fim de semana, têm de ir todas juntas às compras de manhã e à tarde têm de ficar em casa. Basta ver as filas
e os aglomerados de pessoas que se juntaram à porta das grandes superfícies comerciais nas manhãs destes
últimos fins de semana.
Ora, naturalmente que as pessoas questionam se não seria mais útil e eficaz umas irem às compras de
manhã e outras à tarde, em vez de ir tudo junto de manhã.
Mas o Governo não explicou a medida e aquilo que percebemos, sobre o encerramento dos estabelecimentos
comerciais às 13 horas, é que essa medida apenas contribuiu para dificultar ainda mais a vida das pessoas e
para empurrar muitos pequenos empresários, sobretudo os da restauração, da hotelaria e do turismo, para o
encerramento definitivo dos seus estabelecimentos, vendo-se obrigados a despedir trabalhadores.
O setor da restauração — que, para uns, pode ser um circo — é, para nós, um setor importante da nossa
economia, que, tal como outros setores, está numa situação verdadeiramente sufocante e a clamar por apoios
que são mais que justificados.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Deputados: Este estado de emergência é um desastre — um desastre de comunicação, em que não sabemos o que são proibições e o que
são recomendações, ou uns acham que são proibições e outros acham que são recomendações.