17 DE DEZEMBRO DE 2020
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Como estava a dizer, da parte do PCP e do Bloco de Esquerda, há um total conforto com a posição do
Governo, que foi a de entregar ao Sr. Neeleman 55 milhões de euros e desresponsabilizá-lo naquilo que era a
sua posição enquanto acionista da própria TAP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É tal a desonestidade!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Seriedade no debate precisa-se!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Vamos passar à declaração política do PAN. Para o efeito, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No passado dia 10 de dezembro, celebrou-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos, instituído pelas Nações Unidas. Em 2020,
esta data evocativa teve como lema «Recuperar Melhor — defender os Direitos Humanos», numa alusão ao
período absolutamente excecional que vivemos e que afeta especialmente aqueles que são mais vulneráveis,
com menos recursos e com maior dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde, emprego, educação,
justiça ou alimentação.
Quando falamos de violação de direitos humanos, imaginamos normalmente uma realidade muito distante
da do nosso País. Pensamos em países que historicamente sempre se pautaram por um total desrespeito pela
vida humana. Pensamos, por exemplo, na China e nos seus constantes atentados aos direitos humanos,
nomeadamente às minorias religiosas. Ou na Eritreia, conhecida como a «Coreia do Norte africana», onde
nunca houve eleições e onde as mulheres são ainda tratadas como empregadas e escravas sexuais dos
comandantes dos exércitos. Ou na existência de leis discriminatórias, homofóbicas e transfóbicas, aprovadas
sob a cobertura da pandemia do novo coronavírus, em que são apenas o mais recente ataque às pessoas
LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Intersexo) pelas autoridades húngaras. Ironicamente, tanto
um país como o outro fazem parte da composição atual do Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas.
Mas infelizmente, aos dias de hoje, esta não é apenas uma realidade além-fronteiras. Também em Portugal
continuamos a assistir a episódios de violações gritantes dos direitos humanos.
Após 46 anos da instauração do regime democrático, temos ainda muito a fazer nesta matéria e, se, por
um lado, a pandemia veio evidenciar ainda mais aquelas que são as injustiças e desigualdades e sociais que
persistem no nosso País, por outro, episódios recentes demonstram quanto temos de permanecer vigilantes
na defesa intransigente dos direitos humanos, perante a ameaça da violência, do ódio, do racismo, da
xenofobia e da intolerância.
Talvez há algum tempo antes algumas pessoas pudessem considerar impensável que, no nosso País, três
inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) pudessem matar um cidadão ucraniano à chegada
ao aeroporto de Lisboa, num contexto absolutamente grotesco que nos deve envergonhar a todos e a todas.
Mas aconteceu. E não só aconteceu como, perante um crime de tamanha gravidade, a reação do Governo foi
demasiado lenta e ligeira, ainda para mais perante um caso ocorrido sob a tutela do próprio Estado. E, mais,
ignorando até, ao longo de todos estes meses, os sinais e alertas feitos nos últimos anos e que foram
recordados ao longo deste tempo em relação a esta instituição, uma instituição — sejamos também honestos
— composta por boas e por más pessoas, como episódios recentes nos vieram demonstrar.
Mas este foi, de facto, o pior exemplo possível que poderíamos ter dado aos portugueses na educação e
na sensibilização para o combate aos preconceitos, o combate ao racismo e à discriminação, que ainda
persistem na nossa sociedade e que não podem ser tolerados nem abordados com este desprezo e falta de
sensibilidade.
Situações destas exigem reações firmes e imediatas que não deixem dúvidas absolutamente nenhumas de
que em Portugal não há lugar à tortura nem lugar à perseguição dos mais vulneráveis. Mas não foi isso que
aconteceu.
Mais: os atropelos aos direitos humanos no nosso País não se esgotam, infelizmente, neste caso
absolutamente grotesco e que temos de garantir que jamais voltará a acontecer. Continuamos, por exemplo, a
ser confrontados, no nosso País, com o terrível flagelo da violência doméstica e de violência de género ou do