17 DE DEZEMBRO DE 2020
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Contudo, este tema, como bem frisou, transporta-nos para uma evidência que a todos nós choca e que tem
sido discutida até à exaustão em todos os lados. Essa evidência foi a morte dramática de um cidadão no
aeroporto de Lisboa. Esta foi a primeira nota que a Sr.ª Deputada quis — e bem! — aqui trazer.
A segunda nota, que eu acrescento a essa, tem a ver com o desnorte total do Governo no tratamento
dessa questão. A consequência imediata desta morte e da forma como o Governo a tratou foi a seguinte —
não sei se a Sr.ª Deputada me acompanha: em primeiro lugar, o Diretor Nacional da Polícia de Segurança
Pública (PSP) veio dizer que tem trabalhado intensamente com o MAI (Ministro da Administração Interna) na
fusão entre o SEF e a PSP. Só hoje é que o MAI disse qualquer coisa sobre isto, mas ontem não desmentiu,
ou seja, consentiu. O Primeiro-Ministro diz que não há fusão nenhuma.
Conclusão: o que é que nós temos? O Primeiro-Ministro a tirar o tapete ao Ministro da Administração
Interna, desautorizando-o, e o Ministro da Administração Interna a tirar o tapete ao Diretor Nacional da Polícia.
Em suma, isto está irrespirável — irrespirável! E, portanto, é pena! É pena, Sr.ª Deputada e Srs.
Deputados, porque o que está em causa é a dignidade e o prestígio de Portugal, é o respeito pela democracia
e pelo Estado de direito e é, essencialmente, o respeito pelos imigrantes.
Aquilo que é trágico, aquilo que é, de facto, vergonhoso — é uma palavra hoje muito banalizada — é que o
Primeiro-Ministro, que é o grande responsável por isto tudo, ainda não disse aquilo que tem de dizer, e por
isso somos todos convocados para o interpelar nesse sentido. O Primeiro-Ministro tem de dizer aqui se quer
ficar do lado de um amigo, que é aquilo que tem demonstrado, ou se quer ficar ao lado do País.
Sr.ª Deputada, acompanha ou não o PSD nesta interpelação que tem de fazer ao Sr. Primeiro-Ministro, no
sentido de decidir se está a tomar aqui uma opção pessoal ou se está a tomar uma posição institucional a
favor do País?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de Almeida, do CDS.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, o tema que trouxe é relevante e devo dizer que ia bem a sua intervenção. Acontece que, a partir
de certa altura, numa ânsia de falar de tudo e em todos os sentidos — e estamos a falar, em concreto, da
questão da morte do cidadão ucraniano à guarda do Estado português —, não se percebeu bem qual era o
sentido em que o PAN se posicionava, porque ao mesmo tempo que criticava o Governo pela forma como
conduziu o processo, fazia críticas a um serviço de segurança, exatamente na mesma onda de desgaste com
que o Governo se posicionou.
Sr.ª Deputada, valorizar comportamentos negativos para que eles não voltem a existir não é generalizá-los.
A generalização que a Sr.ª Deputada aqui hoje fez não é rigorosa, é demagógica e é contraproducente,
porque não é dizer que aquilo que aconteceu com o cidadão ucraniano é o que acontece todos os dias no SEF
que vamos promover uma cultura de respeito pelos direitos humanos e uma cultura de rejeição absoluta
daquilo que aconteceu naquele caso específico.
É por isso que, da parte do CDS, achamos que é importante separar três situações: a primeira é a total
responsabilidade no apuramento daquilo que aconteceu e a total responsabilidade na atribuição de
consequências a quem praticou atos totalmente inaceitáveis; a segunda é o respeito por um serviço de
segurança do País, que todos os dias presta serviços de enorme relevância e que não merece a generalização
que a Sr.ª Deputada aqui fez, nem o descuido que o Governo tem tido para com esse serviço de segurança; e
a terceira é um empenho de todos nós para que este respeito pelos direitos humanos seja, desde logo,
praticado por quem serve o Estado português, termos essa responsabilidade aqui, no Parlamento, de não
fazer essa confusão.
A pergunta que lhe deixo é muito simples: a Sr.ª Deputada acha que as nossas forças e serviços de
segurança estão do lado da proteção dos direitos humanos ou são adversários da proteção dos direitos
humanos? É importante que esclareça, porque na intervenção que fez não se percebeu.