I SÉRIE — NÚMERO 31
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Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: — Tem agora palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva, do Partido Ecologista «Os Verdes».
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os Verdes consideram que é necessário promover a discussão sobre desigualdades estruturais de género, desencadeada, agora também,
pelos impactos socioeconómicos da COVID-19. Esta discussão ajuda na mudança de mentalidades, que deve
ter lugar na educação para a igualdade e para o respeito pelos direitos humanos.
O caminho para a igualdade tem de ser assumido de forma natural, com medidas de fundo, em que o
elemento central não será apenas o que hoje o PS nos propõe, sem querer desvalorizar o que é recomendado.
Porém, consideramos que estamos numa altura em que é necessário que se trabalhe em mudanças concretas
para o futuro.
Não podemos deixar de registar a ausência de medidas mais concretas que valorizem o papel da mulher na
sociedade, pelo que este projeto pode ser apenas uma espécie de deliberação para aliviar boas almas. Se o
que se pretendia era promover a igualdade no exercício de direitos civis e até políticos — o PS já aqui trouxe
essa discussão — e a não discriminação em função do sexo, deveríamos estar a discutir a aplicação de medidas
concretas que permitam a participação de todos e a conquista de direitos.
Para isso, é necessário garantir uma rede de creches públicas gratuitas, combater a precariedade de homens
e mulheres, aumentar salários de forma a assegurar a todos, e particularmente às mulheres, condições para
viverem plenamente a sua vida.
E quando lemos nesta iniciativa legislativa do PS que uma das recomendações passa pelo equilíbrio de
género no recurso ao teletrabalho, consideramos que é uma falácia que se olhe para o teletrabalho como a
solução ideal para travar a pandemia.
Sabemos que uma parte importante do trabalho na indústria, na agricultura, no comércio, na restauração não
pode ser feita em teletrabalho, e a agravar isto é que estamos a falar, quase sempre, de trabalho precário, onde
os salários são mais baixos e, por isso mesmo, onde há mais desigualdade, mais sobrecarga de horas de
trabalho e maiores dificuldade de dedicação de tempo à família.
O teletrabalho que o PS aqui defende é trabalhar e ter de, ao mesmo tempo, cuidar da casa, dos filhos e dos
idosos, quando as respostas sociais são frágeis e inexistentes?
Relembro que promover a igualdade das mulheres não é alterar a lei do trabalho, como o PS fez, para facilitar
aos grupos económicos a introdução de bancos de horas grupais, desregulando a vida das mulheres e dos
homens, criando inúmeras barreiras. E isto está a acontecer particularmente em setores com um número
elevado de mão de obra feminina.
Em pleno século XXI, a pandemia revela o que já sabíamos, que as desigualdades de género se agravam e
que as mulheres ainda são discriminadas por serem mulheres, e isso é visível no mais elementar direito, que é
o de ter um emprego.
E não é apenas no relatório lançado pela Organização das Nações Unidas que sabemos o impacto das
medidas socioeconómicas da COVID-19 nas mulheres. Olhemos para os números do desemprego em todos
distritos, que nos dizem claramente que o número de mulheres desempregadas, hoje, é bem maior do que o
dos homens.
Sem esquecer que a precariedade, os salários baixos…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente. Não devemos esquecer que a precariedade e os salários baixos são fatores que fragilizam a dependência
das mulheres e lhes limitam a capacidade de tomar nas suas mãos os seus sonhos e os seus projetos, sem que
tenham de estar condenados à nascença ao que a sociedade lhes impõe.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.