18 DE DEZEMBRO DE 2020
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de género como um dos temas centrais do seu Livro Verde. Srs. Deputados do Partido Socialista, têm intenção
de convencer a Sr.ª Ministra do Trabalho a fazê-lo?
Medida n.º 5: alocar parte dos 500 mil milhões do instrumento de recuperação e resiliência à promoção de
um maior número de mulheres no processo de transição digital e verde. Apregoar milhões para aqui e para ali,
como o Governo gosta de fazer, já não é muito sério, pior ainda é exigir uma parte do bolo sem concretizar
minimamente as ações que se pretendem financiar. Enfim, como tinha dito, o documento começa de forma
entusiástica e termina de forma amorfa e envergonhada.
Permitam-me, ainda, salientar a ausência de referências ao setor social. O terceiro setor é fundamental,
substituindo-se mesmo ao Estado no apoio às famílias. E, hoje, muitas famílias encontram-se em estados
extremos de pobreza.
Srs. Deputados, chega de ambiguidades e de generalidades. É altura de criarmos projetos com medidas que
apoiem verdadeiramente as famílias, as crianças, os jovens, as mulheres e os homens, sob pena de nos
tornarmos num País insustentável.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Lina Lopes (PSD): — Vou concluir, Sr. Presidente. Podem contar com o PSD para uma verdadeira política integrada, para a igualdade de oportunidades entre
mulheres e homens.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudando, obviamente, esta iniciativa, não podemos deixar de seguir um caminho de preocupação, no sentido de transformar as palavras
em ação. Apesar de a própria Constituição da República Portuguesa salvaguardar que todos nascemos livres e
iguais em direitos, a verdade é que há muitas mulheres e meninas, neste País, que continuam a não ter o mesmo
ponto de partida e que sofrem, de facto, com o enorme desfasamento e fosso entre a igualdade de género que
continua a marcar Portugal.
Neste aspeto, não podemos deixar de sublinhar que a COVID-19 é, de facto, um problema que pode agravar
também este fosso da igualdade de género. O próprio relatório das Nações Unidas já alertou para o risco de
esta crise sanitária poder reverter as conquistas até aqui conseguidas sobre os direitos das mulheres em todo
o mundo — Portugal não está imune —, agravando-se este fosso. O Secretário-Geral da ONU (Organização
das Nações Unidas) já veio afirmar que 60% das mulheres que trabalham na economia informal foram atingidas
por esta crise, o que se traduz, em regra, já de si de forma estrutural, em salários menores, em maior incerteza,
em maior desproteção e em maior risco de pobreza.
Por outro lado, também têm sido as mulheres, maioritariamente, que asseguram, em primeira linha, os
cuidados a outros, sejam eles ascendentes, descendentes ou familiares em geral. Por esse motivo, têm estado
mais expostas à perda do trabalho, à não manutenção do seu posto laboral, com maiores custos pessoais de
tempo e de saúde.
De facto, esta crise mundial está, de forma desproporcional, a ajudar a um aumento da perda de postos de
trabalho de mulheres e muitos mais virão ainda a ser perdidos. Mas se, por um lado, são as mulheres que,
principalmente, asseguram o bem-estar e saúde dos seus, são também elas que, nesta crise sanitária,
continuam a ser vítimas de contextos de violência doméstica, de exploração e de outras de formas de violência
que põem em causa a sua liberdade e o seu bem-estar.
No nosso País, a violência, por exemplo, nas relações de intimidade, atinge uma em cada três mulheres. Não
podemos, enquanto sociedade, continuar a aceitar que as relações humanas, sejam elas quais forem, tenham
suporte em práticas de agressão e de violência.
Contudo, durante a pandemia, houve muitos serviços que estiveram fechados e não puderam intervir junto
de mulheres e de meninas, como as CPCJ (comissões de proteção de crianças e jovens) e as assistentes
sociais, não podendo, de facto, dar uma resposta mais eficaz a estes contextos. Sendo esta uma questão