I SÉRIE — NÚMERO 32
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O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Temos em apreciação uma proposta do Governo que pretende dar continuidade às respostas à
crise pandémica e aos seus efeitos no arrendamento habitacional e não habitacional.
O que o Governo vem propor, em grande medida, é, no fundo, alargar o período de suspensão dos efeitos
da cessação dos contratos de arrendamento, dando, assim, continuidade à política de resposta aos últimos 10
meses de pandemia.
Mas o Governo vem tarde e a más horas. Só agora, em dezembro, é que apareceram os apoios a fundo
perdido, precisamente para o pagamento de rendas.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — A gente propôs e vocês chumbaram!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Tirando isso, o que é que o Governo anuncia? Mais linhas de crédito, mais endividamento, seja para as famílias, seja para as empresas.
No entanto, há um número elucidativo, que é o dos empréstimos que foram concedidos no apoio ao
arrendamento: 713 empréstimos.
As perguntas que devemos fazer são estas: mas há um problema, ou não há um problema, em matéria de
habitação?! Há um problema, ou não há um problema, a nível do arrendamento e da capacidade que as famílias
têm, ou não têm, de honrar os seus compromissos, designadamente com os seus senhorios?! Como é evidente,
há!
Isto indica, Srs. Membros do Governo, que os tais 713 empréstimos não significam o sucesso de uma política,
mas significam que algo, na resposta, não pode estar, seguramente, a funcionar.
Tenhamos consciência do seguinte: o mundo parou com esta pandemia. Muitos portugueses viram-se
forçados a parar. Mas é certo que os seus compromissos e as suas obrigações não pararam. Esses foram-se
acumulando, mês após mês, e, certamente, no próximo ano, no ano de 2021, virá a fatura, seja para as famílias,
seja para as empresas.
Sr.as e Srs. Deputados, passaram 10 meses. Nestes 10 meses, muito foi exigido aos senhorios e é tempo de
o Estado dar as respostas concretas. Os senhorios já tiveram o seu papel, já deram o seu contributo. É o
momento de o Estado pagar e suportar a fatura social.
Há que não esquecer o seguinte: há muitas famílias que dependem do rendimento que vem do seu
património, das suas rendas. Não são os tais especuladores de que a esquerda muitas vezes fala. Estamos a
falar, muitas vezes, de famílias ou de agregados familiares que têm um ou dois…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Prédios!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Não são prédios, Sr. Deputado, são andares! É daí que vem o seu rendimento e é este que lhes permite pagar as contas no final do mês.
Portanto, há aqui um esforço por parte dos senhorios, atingindo-se um limite. Já percebi que o Sr. Deputado
concorda e ainda bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não leu o projeto!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Com as máscaras, às vezes, não dá para perceber, mas ainda bem que há uma evolução no PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não há nada! Vocês não leem os projetos?
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Há, há!
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, só para terminar, queria dizer o seguinte: o Estado exige aos outros o que não pratica para si.