I SÉRIE — NÚMERO 35
22
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Paulo Leitão, devo dizer que considero uma ironia o Grupo Parlamentar do PSD dizer que, em matéria climática, não podemos prescindir de armas
efetivas. Estamos a falar do PSD que privatizou o setor dos resíduos, o PSD que privatizou a Galp, a REN
(Rede Elétrica Nacional) e a EDP (Energias de Portugal), fazendo com que agora haja um negócio de milhões,
mas 2 milhões de pessoas em casa ao frio.
Devo dizer, no entanto, que o Bloco de Esquerda considera, obviamente, que deve haver mais
investimento público. Devemos dizer: bem-vindo, PSD, a esta posição!
Quanto à questão das barragens, bem, nós não temos uma posição abolicionista. O que não podemos ter é
todos os rios com barragens e todos os rios, como baterias, a funcionar apenas para o interesse de uma
empresa que o PSD privatizou.
Portanto, o que lhe posso dizer é que, da parte do Bloco de Esquerda, estamos no lado das soluções e
queremos que, já agora, o PSD se junte à proposta do Bloco para criar um setor público de energias
renováveis, até para compensar alguns dos muitos erros que o PSD fez durante a sua governação.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos ao Sr. Deputado Luís Leite Ramos, três Srs. Deputados.
Tendo o Sr. Deputado informado a Mesa que deseja responder a todos os pedidos de esclarecimento em
conjunto, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Manuel Rola.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, uma lei de bases define metas, meios e também planeia.
Para além disso, uma lei de bases climática deve definir o princípio da precaução como atuação e ser
consequente com ele. A importância desta lei vai, portanto, bastante mais além das generalidades e
contradições que o PSD nos apresenta aqui, hoje. Aliás, não nos esquecemos, como disse também o
Deputado Nelson Peralta, que foi o PSD que, em 2015, assinou um conjunto de contratos de exploração de
petróleo que comprometiam largamente a meta da neutralidade carbónica até 2050.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Eram 16 contratos para exploração de petróleo! E foi em 2015. Há cinco anos! Felizmente, a mobilização popular conseguiu derrubá-los um a um.
Mas é aqui que existe também mais uma contradição: a expectativa ou a crença do Partido Social
Democrata de que o mercado resolverá o problema. A entrega destes contratos denota que nem os privados
têm grande interesse em alterar as suas formas de produção, nem o Estado neoliberal pretende, de facto,
planear e intervir na economia para combater o caos climático. Pretende entregar ao mercado para que, mais
uma vez, este faça como melhor lhe convém. E, se dependesse do PSD, neste momento estaríamos a
explorar petróleo em Portugal!
Entende, ainda, o PSD que, se o poluidor puder pagar, este tem direito a poluir. Eu pergunto-me se o PSD
entende que a experiência dos últimos anos, com as Minas da Panasqueira, com os resíduos tóxicos de São
Pedro da Cova, com os resíduos em Sobrado e na Chamusca ou, ainda, o crime ambiental no Tejo e no rio
Ferreira têm algum preço. Uma política de precaução não se coaduna com permitir tudo a quem pode pagar.
Sem metas, sem planeamento público, sem precaução, bem podemos aprovar um conjunto de boas
intenções, mas não saímos daí. É por isso importante perceber e que o PSD diga aqui, esta tarde, quais são
as suas propostas de metas. Compromete-se com metas ambiciosas para 2030? Até que ponto está, de facto,
o PSD comprometido? Porque se está comprometido como esteve durante o período da sua governação, nós
temos, de facto, bastante receio de que não consigamos avançar com o Partido Social Democrata e com
aquilo que é, de facto, o desígnio das nossas vidas.
Aplausos do BE.