14 DE JANEIRO DE 2021
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A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr.ª Presidente, agradeço as questões colocadas pelas Sr.as Sr.ª Deputadas
Carla Barros e Mariana Silva.
Começo por referir-me à última pergunta colocada pela Sr.ª Deputada Mariana Silva, acompanhando as
reflexões que fez, nomeadamente na questão de que efetivamente a palavra ambiente é usada unicamente para
ir buscar os fundos públicos que permitem à Galp, aos seus acionistas, acumular mais lucros. É disto que
estamos a falar.
Como já afirmámos, o que esta situação vai fazer é que haja a necessidade de importação de um conjunto
de produtos que neste momento conseguimos produzir no nosso País, o que, no nosso entender, não é de todo
aceitável.
Efetivamente, a Galp, a refinaria do Porto, pode e deve fazer o investimento necessário para adquirir a mais
avançada tecnologia e fazer a modernização tecnológica necessária para mitigar todos os impactos ambientais
que possam advir da sua atividade, sendo que, e importa aqui dizer, neste momento, esta refinaria é das
melhores da Europa no que se refere a tecnologias usadas do ponto de vista do impacto ambiental. Aliás, é de
tal maneira que as nove refinarias que existem em Espanha estão a fazer a modernização para chegar ao
patamar em que já está esta refinaria em Matosinhos.
Por isso, do ponto de vista da tecnologia, esta refinaria tem de ser modernizada para mitigar estes impactos
ambientais, pese embora tenha já um caminho mais avançado do que outras refinarias na Europa, se fizermos
essa comparação.
Subscrevemos, naturalmente, o que disse que são sempre os mesmos a pagar. Aliás, são sempre os
mesmos a pagar e os mesmos a receber. São os trabalhadores a pagar com os despedimentos e com a perda
de salários. E são os mesmos a receber, que são os acionistas, que distribuem entre si dividendos, como é o
caso da Galp, que distribuiu 580 milhões de euros em dividendos de forma absolutamente escandalosa, e que
se prepara, logo a seguir, para despedir 1500 trabalhadores, fora tudo o resto que vem por arrasto do ponto de
vista da economia local, da economia regional e do resto do País.
Sr.ª Deputada Carla Barros, as preocupações que temos em relação à refinaria, expusemo-las. Temos a
preocupação da defesa dos postos de trabalho, que é para nós determinante. Temos a preocupação da defesa
da refinaria, exatamente pela defesa da produção da região Norte, pela defesa da produção nacional e pela
defesa da nossa soberania e independência energética.
Não podemos a seguir passar a pagar à Repsol o que podemos produzir no nosso País, com trabalhadores
altamente qualificados, trabalhadores que conhecem o funcionamento daquela refinaria. Além de que, como já
afirmámos, a refinaria de Sines não pode, de todo, substituir a produção que existe neste momento na refinaria
do Porto.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Moura
Soeiro, do Grupo Parlamentar do BE.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada, quero cumprimentá-la, mas permita-me
que a primeira palavra seja para saudar os trabalhadores que ontem, em Matosinhos, fizeram uma manifestação
em defesa dos seus postos de trabalho. Lá estivemos. A Sr.ª Deputada esteve e eu também lá estive.
De facto, como aqui foi dito, esta decisão da Administração da Galp é uma decisão covarde, que foi feita nas
costas dos trabalhadores, sem qualquer processo de diálogo, sequer, e não tem nada a ver com qualquer
preocupação de justiça climática.
Isto porque, sem mudar os padrões de produção e de consumo, o encerramento da refinaria não reduz em
nada as emissões. Tem como efeito único a desindustrialização a Norte, com a transferência de uma parte da
produção para Sul, para Sines, com o consequente aumento da dependência externa, porque passaremos a
importar os produtos que hoje são aqui produzidos e, como já foi dito, com os custos acrescidos do ponto de
vista ambiental que esse transporte implica.
Além disso, leva ao agravamento de uma crise social e económica não apenas no concelho de Matosinhos,
mas em todo o distrito do Porto e na região Norte, porque estamos a falar de 500 empregos diretos e de mais
empregos de trabalhadores que estão em outsourcing, para além dos empregos indiretos associados àquela
refinaria.