I SÉRIE — NÚMERO 37
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A utilização do Fundo para uma Transição Justa é de uma enorme perversão. E o Governo não disse nada,
«não mexeu uma palha» quando a Administração da Galp, em maio, distribuiu dividendos em plena pandemia,
ao mesmo tempo que estava a despedir de forma selvagem trabalhadores precários. Quando o Primeiro-Ministro
foi confrontado, aqui, pela Deputada Catarina Martins sobre a distribuição desses 500 milhões de euros numa
empresa de que o Estado é o segundo maior acionista, o Governo nada disse. E agora veio invocar o Acordo
de Paris em defesa desta decisão da Administração.
Sr.ª Deputada, não lhe parece chocante a instrumentalização do argumentário climático para uma decisão
que tem só a ver com a contenção de custos e com a acumulação de lucros deste acionista?
Aliás, o argumento climático é um argumento que é utilizado pela Administração, de forma cínica, mas é
também secundado pelo Governo…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … e, aqui, no Parlamento, pelo PSD.
Por isso, Sr.ª Deputada, estamos de acordo que o Governo, enquanto acionista e enquanto Governo que
tem a tutela da economia e do ambiente, tem a obrigação de travar este processo. Certamente é também isso
que discutiremos durante as audições que terão lugar hoje à tarde.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João
Gonçalves Pereira, do Grupo Parlamentar do CDS.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, começo por
cumprimentar a Sr.ª Deputada Diana Ferreira e dizer que o CDS tem uma preocupação com o encerramento
desta refinaria, seja sob o ponto de vista económico, seja sob o ponto de vista laboral, seja sob o ponto de vista
social.
Mas é bom que localizemos este debate sobre o que é uma refinaria. E o que é uma refinaria? Não é mais
do que uma destilaria de petróleo. Vou repetir: é uma destilaria de petróleo!
Portanto, nós não podemos uns dias chegar aqui e dizer: «Não! Nós somos muito amigos do ambiente!
Queremos fazer a transição energética. Queremos a neutralidade carbónica. Queremos a descarbonização!» E,
depois, no dia seguinte, quando estamos a falar de encerrar uma refinaria, a tal destilaria de petróleo,…
O Sr. Jorge Costa (BE): — Vá lá ver se é só isso!!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — … vir dizer «ai Jesus que não se pode fazer nada. Tem de se
manter a refinaria. Têm de se manter as mesmas práticas!»
Sei que vêm aí eleições autárquicas, portanto, percebo alguns dos discursos, algumas das intervenções e
até algumas participações em algumas manifestações. Percebo isso tudo!
Protestos do Deputado do BE Jorge Costa.
Agora, uma refinaria é algo que tem uma elevada intensidade carbónica! Não é uma coisa de somenos.
Repito: não é uma coisa de somenos!
E depois temos o Estado. Vamos, então, ao Estado: é verdade que o Estado, através da Parpública, tem
uma participação na Galp. Portanto, há uma responsabilidade acrescida no que deve ser o diálogo e no que
devem ser as soluções para a empresa e para os seus trabalhadores, evidentemente. Ninguém esconde isso.
Agora, há algo, há um mecanismo que é, por mais que a esquerda tente desvalorizar e dizer que não tem
interesse nenhum, o Fundo para uma Transição Justa, que foi criado especificamente para acudir a este tipo de
situações. E prevê, designadamente, proteger aquilo que são os cidadãos trabalhadores mais vulneráveis nesta
mesma transição e que se aplica claramente a esses mesmos trabalhadores, tem regras específicas, tem apoios,
tem caminhos, tem soluções. Mas, não podemos…