14 DE JANEIRO DE 2021
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Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda. Tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Filipe Soares, para uma intervenção.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Este
debate de renovação do estado de emergência faz-se perante um aumento muito significativo do número de
casos. Todos sabemos que, se não for travado este aumento, poderão ser colocadas em causa as respostas de
saúde à população.
O ponto de partida para a terceira vaga é muito mais complicado do que aquele que existiu no passado,
particularmente no que toca à capacidade de internamento ou à capacidade de resposta dos cuidados
intensivos. Mas temos a certeza, por isso, por estes dados, de que hoje é mais visível do que antes a
necessidade de um novo estado de emergência.
O Bloco de Esquerda não é contra esse pedido, como também já não foi contra ele no passado. Levamos a
sério a informação dos especialistas e já todos percebemos que há sacrifícios a fazer para travar a propagação
do vírus e para defendermos todas e todos.
Não é isso que nos separa do Governo nem da proposta que debatemos. O que não compreendemos é por
que motivo têm tardado tanto as respostas óbvias a este momento tão exigente.
A cada declaração de estado de emergência eram pedidas três coisas ao Governo: apoiar, contratar e
requisitar.
Era-lhe pedido para apoiar a economia e as pessoas, os setores de atividade que são afetados pelas
restrições e as pessoas que veem o seu emprego e os seus rendimentos postos em causa.
Era-lhe pedido para contratar os meios necessários para garantir que a resposta do Estado não falhasse,
seja no Serviço Nacional de Saúde, seja na escola pública, seja nos restantes serviços do Estado.
Era-lhe pedido para requisitar os meios privados da saúde sempre que o País necessitasse deles, para
garantir o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e saúde para todos.
Nestas três prioridades, o Governo tem feito pouco e chegado tarde. Não preveniu como devia, não antecipou
o que era necessário e tem permanentemente corrido atrás do prejuízo. É isso que explica o porquê de não
termos votado a favor dos estados de emergência e o porquê de também não o fazermos desta vez, porque o
Governo tem falhado na aplicação dos estados de emergência.
Apoiar, contratar, requisitar. São estas as obrigações do Governo, quando tanto é pedido às pessoas.
Mas o Governo não tem estado à altura desta exigência. Há pessoas que ainda não receberam os apoios
prometidos no confinamento de março passado. Dez meses depois, a maioria das pessoas e das empresas já
não tem reservas.
Falhar nos apoios necessários é deixar a crise avançar. A destruição da economia levará milhares de
empregos, deixando as pessoas para trás, desprotegidas. Falhar na proteção da economia e do emprego é um
erro que pagaremos muito caro. Isso não pode acontecer!
Por que não tem o Governo reforçado como devia o Serviço Nacional de Saúde?! Tantos meses passaram
e as contratações são a conta-gotas. As vagas sucedem-se e o Governo tarda sempre em contratar, sabendo
que o cansaço se vai acumulando.
Se um dos temas em debate é o de saber se as escolas se mantêm em funcionamento no modelo presencial,
como explica o Governo, por exemplo, que os prometidos computadores e tablets ainda não tenham chegado à
maioria dos alunos, em número suficiente? Por que não reforçou o Governo as escolas com professores e
assistentes operacionais, para garantir o funcionamento em pleno e em segurança?
Tantos meses depois, por que ainda se discute a possibilidade da requisição dos privados da saúde, dando
um tratamento de privilégio a este setor privado, quando se pede tanto ao resto da economia? Requisitar e pagar
o preço de custo não é exploração, é garantir ao SNS todos os meios necessários para que ninguém fique sem
resposta.
Quanto a todas estas perguntas há, pelo menos, uma suspeição: a de que o Governo, neste momento tão
difícil, não está tão empenhado como devia em minorar os efeitos da pandemia na economia e na vida das
pessoas. Porventura, não quer gastar o dinheiro necessário. Mas isso é absolutamente incompreensível, ainda
mais quando percebemos que o Governo não tem ido buscar o dinheiro onde ele existe.