I SÉRIE — NÚMERO 44
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que não falta são políticas, mas para que sejam eficazes e tenham resultados têm de ser avaliadas para se
perceber se funcionam ou se devemos adotar uma nova estratégia. É urgente agir hoje para que, em 2030,
possamos viver num mundo sem mutilação genital feminina, porque quem ama cuida».
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira fazer o favor de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Vou concluir, Sr. Presidente. Cabe-nos também a nós, atores privilegiados pelo nosso poder legislativo, contribuir para cuidar e capacitar
estas meninas, para que possam viver livres — livres para serem quem quiserem e livres de dor e de sofrimento.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Termino agradecendo, evidentemente, a todas as pessoas, em particular às organizações não governamentais, que têm combatido este flagelo.
Aplausos de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Encerramos, portanto, este ponto da nossa ordem do dia. Passamos, agora, ao sexto ponto, que consiste na discussão do Projeto de Resolução n.º 857/XIV/2.ª (PEV)
— Pela contratação de secretários clínicos e de assistentes operacionais para os cuidados de saúde primários.
Para apresentar esta iniciativa, em nome do Grupo Parlamentar proponente, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Mariana Silva.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A pandemia provocada pela COVID-19, que afeta de forma mais severa doentes de risco e os mais idosos, fez com que o Serviço Nacional de Saúde
concentrasse nela os seus esforços, não só a nível dos hospitais, como também dos cuidados de saúde
primários. Tal teve um custo demasiado elevado no funcionamento e na resposta às outras doenças, que foram
relegadas para segundo plano, mesmo as patologias que não podiam esperar pelo diagnóstico, pelo tratamento
ou pelo acompanhamento.
A COVID-19 realçou as dificuldades conhecidas do SNS, consequência de décadas de desinvestimento por
parte de sucessivos governos, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, onde se verifica a falta de
recursos humanos, de materiais e, até, a falta de obras de conservação dos próprios edifícios. Desde o início da
pandemia, devido à falta de recursos humanos, foram encerradas extensões de saúde, foram reduzidos horários
de atendimento, foram suspensos atendimentos complementares e consultas programadas foram adiadas ou
deixaram de ser realizadas presencialmente, mantendo-se apenas as consultas para situações agudas. Os
utentes aguardavam à porta destes estabelecimentos, sem condições, ou eram atendidos ao postigo. Perante
este cenário, a opção para o atendimento aos utentes passou pelo correio eletrónico, pelas consultas ao telefone
ou por videoconferência. Embora a telemedicina possa ter um papel facilitador e complementar em determinadas
circunstâncias, em nada substitui as consultas presenciais e o acompanhamento direto que é necessário fazer
em determinadas doenças.
No entanto, estas opções trouxeram à luz do dia mais um problema, que foi o de responder, de forma célere,
às solicitações. Comunicar com os centros de saúde para marcar uma consulta, para pedir uma receita, para
pedir exames, entre outros, tornou-se num grave problema. Todos ouvimos falar do tempo imenso que levava
uma chamada telefónica a ser atendida ou um e-mail a ser respondido, uma questão que poderá ter sido
motivada pela falta de recursos humanos e de meios técnicos.
O Governo disponibilizou telemóveis para as unidades de saúde primárias, conforme Os Verdes defenderam,
por forma a colmatar as debilidades já conhecidas. O problema é que faltou contratar secretários clínicos para
usar os meios técnicos disponibilizados. A urgência e o combate à pandemia que vivemos passam não só por
colmatar a crónica falta de médicos de família e de enfermeiros de família, como também pela contratação de
outros recursos humanos de apoio, desde logo secretários clínicos e assistentes operacionais, que possam
garantir a limpeza dos locais e ganhar a confiança dos utentes, para que estes continuem a recorrer aos centros
de saúde, evitando sobrecarregar os hospitais. Os Verdes consideram que o reforço destes profissionais