4 DE FEVEREIRO DE 2021
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A crise pandémica em nada ajudou, agravou mesmo, esta situação, estimando o FNUAP (Fundo das Nações
Unidas para a População) que dois milhões de casos de mutilação genital feminina não sejam evitados até 2030.
Portugal tem, desde 2007, programas de ação de combate à mutilação genital feminina no âmbito da saúde,
da educação, em estreita articulação com organizações não governamentais e numa cooperação internacional
com o FNUAP.
Em 2007, criminalizou-se esta prática nefasta e, em 2015, autonomizou-se este tipo legal de crime.
O Governo tem colocado o combate às práticas nefastas no centro das políticas nacionais de combate à
violência contra as mulheres, como recomenda a Convenção de Istambul. O nosso compromisso está plasmado
no plano de combate à violência contra as mulheres e violência doméstica 2018-2021, incluído na Estratégia
Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação — Portugal + Igual, e também na conferência de alto nível
sobre os 10 anos da Convenção de Istambul que a Presidência portuguesa da União Europeia vai realizar.
Apostou-se no reforço do diálogo intercultural com a criação, em 2018, do projeto Práticas Saudáveis: Fim à
Mutilação Genital Feminina. Apostou-se na formação de públicos estratégicos, como recomenda o estudo da
Universidade Nova de Lisboa, com mais de 1000 profissionais, professores, médicos, enfermeiros, etc.,
formados em 2019. Apostou-se em pós-graduações sobre mutilação genital feminina quer nos politécnicos, quer
agora, também, na Escola Nacional de Saúde Pública.
Foi criado, recentemente, em novembro de 2020, o primeiro espaço de apoio às vítimas de violência
doméstica e de práticas tradicionais nefastas e mais dois estão em curso no Centro Nacional de Apoio à
Integração de Migrantes (CNAIM).
Foi lançada a campanha «Não corte o futuro!», que marca presença nos aeroportos nacionais desde 2019,
em diversos idiomas, e amplamente difundida pelos meios digitais em centros de saúde, escolas, associações
locais, etc., com o objetivo de robustecer a mensagem e os alertas de prevenção.
Também diversos municípios, em articulação com os ACES, sobretudo na área de Lisboa, foram mobilizados
para integrar esta problemática nas suas políticas e planos municipais.
Recentemente, numa sentença exemplar, foi julgado o primeiro caso de mutilação genital feminina. Há mais
casos sinalizados hoje, porque mais eficaz é também o combate a este flagelo. Mas muito ainda há para fazer,
sobretudo nestes tempos de confinamento, onde se agravam e não se respeitam os direitos humanos, em muitos
casos, como sabemos.
De igual modo, o Parlamento tem sido uma voz ativa contra a mutilação genital feminina quer através da
Subcomissão para a Igualdade e Não Discriminação, quer do Grupo Parlamentar Português sobre População e
Desenvolvimento.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, queira concluir.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que acompanhamos a iniciativa do PAN, que reforça a visibilidade da estratégia em curso, pelo trabalho desenvolvido e pela profunda ligação a países com
prevalência de mutilação genital feminina.
Portugal tem, aqui, um papel a cumprir.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, a Sr.ª Deputada Alma Rivera.
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A mutilação genital feminina é uma das formas mais hediondas de violência contra as mulheres. É uma violação grave dos direitos das mulheres e das
crianças.
Por definição, consiste em «todo e qualquer procedimento que envolva a remoção parcial ou total dos órgãos
genitais femininos ou que provoque lesões nos mesmos, tendo por base razões culturais ou fins não estritamente
terapêuticos». A mutilação genital vitima particularmente as meninas e raparigas até aos 15 anos, mas também
é praticada em mulheres adultas. E é também já na idade adulta que têm sido detetadas muitas das práticas de
mutilação genital.