I SÉRIE — NÚMERO 45
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O que a proposta do Governo faria, caso fosse aprovada, era acabar com qualquer interesse que uma
entidade internacional pudesse ter na Zona Franca da Madeira. Uma coisa é adequar o funcionamento do Centro
Internacional de Negócios, em função até dos reparos da Comissão Europeia, outra coisa bem diferente é esta
proposta excessiva que lesaria a Zona Franca da Madeira muito para além do que é razoável. E fazer esta
proposta sem ouvir previamente tanto a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira como o
Governo Regional é uma verdadeira falta de respeito pelos madeirenses e pela sua autonomia.
Já a proposta do PSD sobre a mesma matéria é bastante mais equilibrada, porque acolhe as críticas da
Comissão Europeia ao mesmo tempo que salvaguarda os benefícios e a atratividade internacional da Zona
Franca da Madeira. Por isso, merecerá o nosso voto favorável.
A Iniciativa Liberal acredita que a fiscalidade pode e deve ser utilizada como fator de atratividade das regiões.
A Zona Franca da Madeira não é um paraíso fiscal, pois tem mecanismos, que podem até ser reforçados, de
fiscalização e de prevenção de abusos. A Zona Franca da Madeira é um pólo de atratividade na economia
regional e nacional gerador de receita fiscal. A Zona Franca da Madeira tem trazido benefícios para a Madeira
e para o País e assim deve continuar.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do
Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, há vários problemas com o regime do
Centro Internacional de Negócios da Madeira.
O primeiro problema é o facto de integrar uma lógica de competição fiscal que promove desigualdades e que
destrói riqueza no sistema económico como um todo. O Centro Internacional de Negócios da Madeira não é um
regime isolado e faz parte de uma rede mundial de offshores e de paraísos fiscais em que cada regime, com as
suas características, cumpre um propósito. Esse propósito é, na melhor das hipóteses, pagar menos impostos
e, na pior das hipóteses, branquear capitais e outro tipo de crimes económicos e não só.
O segundo problema é o facto de, historicamente, o Centro Internacional de Negócios da Madeira e o regime
de privilégios que tem e que implica não beneficiarem a Madeira. É falsa a chantagem de quem quer confundir
os interesses particulares do Centro Internacional de Negócios da Madeira, das empresas e dos fundos
financeiros que deles beneficiam, com o interesse público ou com os interesses dos madeirenses. A maior prova
disso é que quem mais rasga as vestes naquele púlpito a falar dos interesses dos madeirenses e da Madeira
não quer saber dos postos de trabalho.
O PSD não quer saber se os postos de trabalho são criados na Madeira ou se são criados na Cochinchina!
Não só não quer saber como, no seu projeto, permite que sejam criados em qualquer lugar. O PSD não quer
um regime de benefício fiscal para o desenvolvimento da Madeira, quer um offshore para o regime da Madeira
e sempre quis!
Por isso, é falsa a chantagem de quem diz que quem está ao lado do offshore está ao lado dos madeirenses
e que quem está contra o offshore está contra os madeirenses. Pelo contrário, quem está contra o offshore está
contra as desigualdades que afetam, acima de todos, os madeirenses e a Região Autónoma da Madeira, que
tem bolsas de pobreza das mais graves do País. Não é com offshores, com desigualdades ou com privilégios
fiscais que se resolvem os problemas da desigualdade e da pobreza.
O terceiro problema é o facto de, para além de as regras serem erradas, não existir capacidade de
fiscalização. Nós não confiamos na Autoridade Tributária regional, que deixou passar anos de fraude no regime
do Centro Internacional de Negócios da Madeira, até porque o próprio ex-diretor da Autoridade Tributária foi,
depois, para administrador da Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, que gere o Centro Internacional de
Negócios. Compreendemos o que se passa na fiscalização do Centro Internacional de Negócios e não
confiamos nessa capacidade.
Não negamos, também, que a proposta de lei que o Governo apresenta introduz alguma decência nas regras
existentes, mas não altera a natureza do regime de privilégio da Madeira nem resolve o problema da falta de
fiscalização, pelo contrário até prorroga a possibilidade de novas licenças por um ano. Para além disso, a
proposta do Governo prorroga e eterniza outros benefícios fiscais ao sistema financeiro, nomeadamente os que
isentam de juros os depósitos ou os empréstimos feitos por instituições de crédito estrangeiras a instituições