I SÉRIE — NÚMERO 45
36
Nesta matéria, o PSD tem também uma iniciativa, que me parece bastante mais sensata. Explico porquê: em
primeiro lugar, convém não esquecermos que, para além de estarmos no meio de uma pandemia e para além
de a Madeira, como todo o País, sofrer com ela, é verdade que a Madeira é uma região particularmente
dependente do turismo, que, obviamente, não está a acontecer neste momento. Não está a acontecer na
Madeira como não está a acontecer na maior parte dos sítios do mundo, mas a Madeira é dos sítios que mais
dependem do turismo.
Portanto, seria bom não estarmos a acrescentar a um problema já grave ainda um outro problema.
Em segundo lugar, também é bom lembrar que a proposta que o Governo apresenta vai contra o parecer da
Assembleia Legislativa da Madeira. Aliás, gostava de citar um parecer da Comissão de Economia da Assembleia
Legislativa da Madeira, que diz: «O Governo português demitiu-se da sua responsabilidade de esclarecimento
e de sensibilização das instituições europeias e até mesmo de reação firme em termos de impugnação, optando
por lançar um incompreensível e despropositado ataque legislativo ao Centro Internacional de Negócios da
Madeira, esquecendo-se da sua importância para o próprio País».
Ora, não podemos estar sempre a assistir a discursos piedosos sobre autonomia e sobre regiões e, depois,
quando realmente chega a hora de respeitar a autonomia de uma região, pura e simplesmente fazer letra-morta
do que pensa o seu Governo e do que pensa o seu Parlamento.
Por último, gostaria de lembrar isto: estão em causa 2300 empresas e podem estar em causa 6000 postos
de trabalho.
Sr.as e Srs. Deputados, poderão fazer todos os discursos que quiserem sobre perdas de receita e sobre o
que não é cobrado por haver Zona Franca da Madeira. A realidade é que, se este regime terminar ou for limitado,
como quer o Governo, o erário público não vai ver nem mais um tostão de impostos. O que vai ver é muitas
empresas a saírem dali e a irem para outro sítio qualquer, onde não estejam pura e simplesmente à espera de
taxá-las.
É isto que vai acontecer e é por isto acontecer é que se vê que, na Madeira, o assunto é bastante abrangente
e há tantas forças políticas a defendê-lo. É que ele é bom para a Madeira e para os madeirenses e,
consequentemente, o que é bom para a Região Autónoma da Madeira, acho que é bom para todos nós,
portugueses, e para Portugal.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Cabe, agora, a vez ao Sr. Deputado Carlos Pereira, do Partido
Socialista.
Tem a palavra para uma intervenção, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Gostaria de dar algumas notas sobre este
diploma, designadamente no que diz respeito à Zona Franca da Madeira. Devo dizer, em abono da verdade,
que não me vou alongar muito sobre a importância da Zona Franca da Madeira para a Madeira, porque me
parece mais ou menos evidente. Os factos são inquestionáveis.
Basicamente, gostaria de referir algumas notas, na sequência da intervenção que a Sr.ª Deputada Sara
Madruga da Costa fez, que me parecem relevantes.
A Sr.ª Deputada disse, na altura, mais uma vez, que esta é a proposta mais justa e mais equilibrada. Devo
dizer que nem sempre foi assim e é bom lembrar isso. Na altura do Orçamento do Estado, alertámos exatamente
para esse pormenor, o de que o PSD apenas pretendia fazer uma mera prorrogação dos benefícios fiscais,
esquecendo, metendo a cabeça na areia, debaixo do tapete, aquela que foi, de facto, a auditoria da Comissão
Europeia relativamente ao Regime III da Zona Franca da Madeira.
Ora, isso é impensável acontecer no contexto em que estamos. E lembro o contexto em que estamos: o
contexto é o de uma negociação para um quinto regime, que significa a continuidade da Zona Franca da Madeira.
A continuidade da Zona Franca da Madeira exige credibilidade das instituições e das opções políticas. Essa
credibilidade das instituições ou das opções políticas implica, também, que os governos, as autoridades, o
Governo Regional, em particular, e as autoridades que têm responsabilidade nas matérias da Zona Franca da
Madeira, não falhem nem façam o que fizeram no passado, nomeadamente, o despacho interpretativo, em 2014,