19 DE FEVEREIRO DE 2021
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proposta bastante temerária, tendo em conta que rever programas e currículos já é, de si, um trabalho complexo
e pouco consensual, até, em tempos de normalidade, mas, enfim…
Reconhecendo, no entanto, que há que adaptar as estratégias de ensino e métodos pedagógicos à realidade
que vivemos, de intermitência entre ensino presencial e à distância, parece-nos que o esforço tem de ser,
primeiro, o de encontrar todas as formas de garantir que os alunos aprendem o que está estipulado para cada
ano. Nesta fase, os alunos precisam de mais, não precisam de menos e, portanto, isso pode ser conseguido
seja estendendo o ano letivo, seja dando formação aos professores em estratégias adequadas, seja garantindo
apoios e tutorias aos alunos que forem ficando para trás.
Esta iniciativa tem o seu quê de sui generis, até porque o PAN pede uma coisa e o seu contrário, ou seja,
pede, por um lado, que se reduzam os programas e, portanto, se ensine menos, mas, ao mesmo tempo, que se
garanta a exigência académica, por oposição ao facilitismo. Não se pode «comer o bolo e ficar com ele no
prato», há que decidir qual das duas é que querem.
O segundo projeto é sobre educação para o bem-estar animal e, sobre isto, serei muito breve. A proteção
animal, a educação e a sensibilização das crianças para o respeito pela vida e bem-estar animal devem, no
nosso entender, ser enquadradas numa visão ampla e integral da cidadania, da consciência dos valores
positivos e do mundo, que é a nossa casa comum. Uma criança ou um jovem formado nestes princípios,
seguramente, respeitará os animais e, mais importante, respeitará toda a comunidade em que está inserido,
conhecendo, aceitando e respeitando as diferenças.
Finalmente, refiro-me à iniciativa do CDS para fazer face ao incumprimento da promessa do Sr. Primeiro-
Ministro de um computador para cada aluno. Muitas famílias — sabemos — têm sido confrontadas com a
necessidade de adquirir equipamentos informáticos, quer por causa do teletrabalho, quer como material escolar
para os seus filhos na idade de ensino obrigatório ou na universidade, com acréscimos a orçamentos familiares
muitas vezes, neste momento, já depauperados. É por isso que propomos que, transitoriamente, os encargos
com equipamentos informáticos das famílias com estudantes de qualquer nível de ensino, incluindo o ensino
superior, possam ser deduzidos à coleta de IRS, como despesas de educação, em 50% do seu valor e até um
máximo de 250 € por membro do agregado. Esta deve ser uma medida de aplicação imediata, que, na
apresentação do projeto, explicamos que não colide com a norma-travão e que deve ser também excecional,
para apoiar os alunos e as suas famílias e minimizar o incumprimento do Governo na garantia das condições
que neste momento são necessárias, e não sabemos se não terão de voltar a ser, para o ensino à distância.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Cotrim de
Figueiredo, da Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Na discussão do Orçamento
deste ano, a Iniciativa Liberal propôs que as famílias pudessem deduzir, no IRS, as despesas com a aquisição
de equipamentos informáticos. O objetivo era simples: acelerar o processo de transição digital e facilitar o acesso
das famílias a instrumentos de trabalho e ensino à distância. Tudo isto num contexto que a pandemia só veio
acelerar, em que o papel destes equipamentos se torna cada vez mais central para aprender, para trabalhar,
para estar informado, para interagir com empresas, com o próprio Estado e uns com os outros.
A nossa proposta foi, na altura, chumbada pelo PS, pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, com a abstenção
do Chega e do PSD. Só o CDS e o PAN, e a Iniciativa Liberal, naturalmente, votaram a favor. E hoje, perante
uma das propostas do PAN que vai no mesmo sentido, voltaremos, naturalmente, a votar a favor.
Mas quero deixar duas breves notas finais. A primeira é para dizer que também concordamos com o PAN,
quando este refere que se tornou necessária e urgente uma revisão dos programas curriculares, face ao contexto
de ensino em que vivemos.
Uma segunda nota é mais um alerta: era bom que o Ministro Brandão Rodrigues definisse já qual vai ser o
regime de melhoria de nota este ano, a menos que tenha ficado muito satisfeito com a injustiça e a confusão
que tivemos no ano passado, com milhares de alunos impedidos de ver as notas de exame contribuírem para a
melhoria de nota final. Defina-se isto já, até para não termos de assistir a mais um exercício de contorcionismo
constrangedor do Ministro.