I SÉRIE — NÚMERO 46
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O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra, pelo PS, a Sr.ª Deputada Martina
Jesus.
A Sr.ª Martina Jesus (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Antes de fazer algumas considerações
sobre os projetos de resolução do PAN, importa sublinhar que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista valoriza
a disciplina de Cidadania enquanto instrumento de combate às desigualdades, de afirmação e de respeito pelo
próximo e é igualmente sensível à temática da proteção e da promoção do bem-estar animal.
Ao discutirmos o Projeto de Resolução n.º 903/XIV/2.ª importa afirmar que o Ministério da Educação já definiu
as aprendizagens essenciais a nível de cada disciplina. Essas aprendizagens contribuem para alcançar o perfil
do aluno à saída da escolaridade obrigatória e não prejudicam a gestão do currículo com autonomia ao longo
dos diferentes ciclos de ensino. Relativamente à recuperação de aprendizagens, é também de sublinhar que o
calendário escolar foi organizado com um período de cinco semanas reservado a este efeito.
O Ministério da Educação e as escolas trabalharam em conjunto para implementarem os seus planos, não
só nessas cinco semanas iniciais, como também ao longo do ano letivo. Apostou-se no reforço de créditos e de
tutorias, na dinamização de mentorias e noutras medidas complementares de reforço dos meios ao dispor das
escolas. Naturalmente, sabemos e temos consciência de que a realidade que vivemos obriga a reforçar este
tipo de medidas e de condições de trabalho. Por isso, está já a ser planeado um trabalho de reforço de
aprendizagens para o futuro.
Neste momento, importa deixar as escolas desenvolverem o seu trabalho e apoiá-las nas suas diferentes
dinâmicas, tal como se tem verificado no conjunto de recursos que têm sido produzidos e disponibilizados pelo
Ministério, no site de apoio às escolas. É evidente que o teor deste projeto de resolução é disruptivo
relativamente ao percurso de melhoria consistente da qualidade das aprendizagens levado a cabo desde 2016,
mas parte de pressupostos e de generalizações infundadas e simplistas.
No que respeita ao Projeto de Resolução n.º 905/XIV/2.ª, cumpre dizer que a Estratégia Nacional de
Educação para a Cidadania bem como o decreto-lei que a suporta têm um período de execução e um período
destinado à sua avaliação intercalar e final e que, nestes períodos de avaliação, haverá lugar para a ponderação
e análise das alterações propostas, já que importa ter um período de estabilidade para realizar essa
monitorização e avaliação. O mesmo acontece relativamente à questão do referencial. Estes têm de estar
alinhados e enquadrados com as aprendizagens essenciais das diferentes disciplinas.
Entendemos que o objeto deste projeto de resolução carece de melhor avaliação e de enquadramento
temporal, o que manifestamente não acontece neste momento.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Ana
Mesquita, do PCP.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, abordamos, neste ponto, um
verdadeiro buquê de temáticas. Há, de facto, muitos aspetos que são convocados para esta discussão.
Em relação ao primeiro tema, sobre a revisão dos programas curriculares, assinalamos que o PCP há muito
defende que deve existir um debate nacional sobre a reorganização dos ciclos de ensino e sobre a reorganização
curricular. Aliás, a Resolução da Assembleia da República n.º 17/2016, que recomenda ao Governo que inicie
um processo de reflexão e de debate democrático, amplo e alargado a toda a comunidade educativa, de modo
a que se definam objetivos para uma real e profunda reforma curricular, têm precisamente origem no Projeto de
Resolução n.º 62/XIII/1.ª, do PCP. Se, em circunstâncias normais, já existia, como é evidente, esta necessidade
de reorganização e de reforma curricular, nas circunstâncias que atravessamos hoje ainda mais sentido faz
debater esta situação.
Ontem, na audição ao Sr. Ministro, na Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto, tivemos a
oportunidade de questionar isto mesmo, tendo em conta a realidade que atravessamos. É impensável que tudo
se mantenha igual, quando tudo é tão diferente no ensino não presencial. Tem de haver adaptações, têm de ser
equacionadas as limitações existentes, têm de ser debatidos os problemas que existem quanto ao cumprimento
do que está estabelecido. É evidente que a situação não pode ficar igual ao ensino presencial, quando não o é.