I SÉRIE — NÚMERO 46
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professores se mobilizaram, pela via autodidata, pela partilha e pela cooperação, dando a resposta possível ao
ensino não presencial.
As desigualdades sociais tornaram-se visíveis nos confinamentos. O Bloco de Esquerda chamou a atenção
para esta realidade. No final do ano letivo passado, disse, em vão, ao Governo o que era necessário fazer na
escola para que estas dificuldades sejam atenuadas. Além dos apoios e das tutorias, é fundamental considerar
um plano de recuperação para toda a escolaridade. Tendo como referência o Perfil dos Alunos à Saída da
Escolaridade Obrigatória e as aprendizagens essenciais e subsequentes, é necessário limpar o que não é
essencial, como as metas de aprendizagem, que acrescentaram conteúdos aos já longos programas. É preciso
olhar para as provas finais do 9.º ano de Português e de Matemática e questionar a sua relevância no currículo,
que sacrifica as disciplinas das humanidades, essenciais para o perfil dos alunos.
Necessariamente, um plano de recuperação dos dois anos letivos tem de incluir a diminuição do número de
alunos por turma, permitindo o acompanhamento próximo das aprendizagens de cada aluno e, assim,
ultrapassar os efeitos negativos dos confinamentos nas aprendizagens.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Carla
Madureira, do PSD.
A Sr.ª Carla Madureira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD não subscreve as conceções
que orientam a atual política educativa por se desvalorizar o papel dos professores, tornando-os nuns meros
animadores da sala de aula, por se desvirtuar o currículopor uma suposta flexibilidade e autonomia, sem
qualquer propósito percetível. Eliminam-se da gramática educacional os conceitos e os valores da disciplina, do
esforço e da organização racional das aprendizagens. Abominam-se os exames e outros instrumentos de
avaliação e o que se faz é subestimar o valor fundamental do conhecimento e ignorar o poder estruturante da
Matemática, da língua materna e da Ciência.
O atual momento educativo do nosso País é preocupante. O Ministério da Educação tem falhado
constantemente com os alunos, com os professores e com a restante comunidade educativa. Cada dia que
vivemos em confinamento, em teletrabalho ou em ensino à distância, é um dia no qual os mais pobres e os
menos qualificados têm menos instrumentos para vencer, ficando ainda mais à mercê dos apoios do Estado. Há
90% de alunos a aguardar pela chegada de computadores e outros esperam pela tarifa social de internet,que
só deverá chegar em junho, quase no final do ano letivo.
O Governo falhou e continua a falhar com os alunos e as suas famílias, é pródigo em fazer anúncios e mais
anúncios, mas a concretizar as medidas a que se propõe é que é mais difícil. A promessa do Governo de garantir
igualdade no acesso aos equipamentos informáticos está longe de ser cumprida. Apenas um décimo dos
computadores chegou às escolas. É, pois, fundamental que o Governo crie mecanismos que assegurem que as
despesas com a aquisição de computadores, utilizados na formação e na educação, possam ser dedutíveis em
sede de IRS. Esta será a forma de compensar a inoperância do Ministério da Educação.
Por isso mesmo, o PSD vai votar a favor dos projetos de lei do PAN e do CDS-PP, que visam a dedução de
valores relativos à aquisição de equipamentos informáticos para estudantes. Muitas famílias tiveram de comprar
equipamentos informáticos para que os seus educandos pudessem acompanhar as aulas em ensino à distância,
porque não podem esperar pela distribuição a conta-gotas dos prometidos computadores.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Projeto de Resolução n.º 903/XIX/2.ª, que o PAN trouxe à discussão
nesta tarde, é bem-intencionado, embora labore em vários equívocos. Desde logo, porque tem a crença de que
as revisões curriculares podem ser feitas sob a pressão da urgência em lidar com os impactos da situação
pandémica nas aprendizagens dos alunos. A flexibilidade e a autonomia, assim como as aprendizagens ditas
«essenciais», tornaram-se num programa mínimo.
Perante esta conjuntura, para que futuro queremos formar as novas gerações? O que fazer quando tudo
muda? A resposta só pode ser uma: centrarmo-nos sobre o que não muda. E o que não muda? O conhecimento
consolidado, o legado cultural, os valores da cidadania e do desenvolvimento humano. Esta opção estratégica
é a única que nos garante a concretização do princípio da equidade e o propósito de uma educação de qualidade