19 DE FEVEREIRO DE 2021
61
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Face à necessidade de dar
resposta aos problemas decorrentes da pandemia, o Governo tem vindo a assumir um conjunto de medidas
extraordinárias e urgentes.
De entre essas medidas consta a criação do regime excecional de constituição de relações jurídicas de
emprego na área da saúde, nomeadamente a contratação de trabalhadores para a constituição de vínculos
laborais a termo, por períodos de quatro meses, renováveis por iguais períodos, nos serviços e demais
entidades, incluindo o setor público empresarial do Ministério da Saúde por forma a reforçar a resposta do SNS.
Ora, o sucessivo desinvestimento no Serviço Nacional Saúde tem mantido milhares de enfermeiros a
trabalhar em situações de precariedade laboral.
Sucede que a instabilidade profissional dos enfermeiros afeta todos aqueles profissionais, estejam com
contratos de substituição, com contratos a termo ou com contratos no âmbito da resposta à pandemia.
É verdade que para os enfermeiros com contratos a termo, contratos de quatro meses, celebrados ao abrigo
do regime previsto no Decreto-Lei n.º 10-A/2020, o Governo viria a aprovar, em outubro do ano passado, a
conversão para contratos sem termo ou por tempo indeterminado para os enfermeiros que, até ao final do mês
de dezembro de 2020, contassem com uma duração de oito meses de «contrato COVID», ou seja, dois contratos
de quatro meses.
A passagem aos quadros dependeria da existência de lugares disponíveis no mapa de pessoal da entidade
e, de acordo com as estruturas sindicais, terão sido abrangidos por esta medida cerca de 500 enfermeiros.
Uma nova conversão dos contratos deverá abranger os profissionais de saúde que a 31 de março de 2021
perfaçam oito meses de contrato, nos termos do Decreto-Lei n.º 89/2020. Contudo, esta medida de exceção não
só apenas resolveu uma parte do problema como deixa em situação de desigualdade milhares de enfermeiros
que, estando também na linha da frente desta pandemia, muitos dos quais com contratos de substituição há três
e quatro anos ou com contratos a termo, não viram removida a injustiça e continuam numa situação laboral
precária, ao contrário de outros profissionais que prestam serviços nas entidades de saúde há menos tempo e
cujos contratos foram, e bem, convertidos em contratos sem termo ou por tempo indeterminado. Ou seja, os
enfermeiros com vínculos precários, que estão há anos a prestar serviço nos hospitais públicos e com mais
tempo de serviço nessas entidades, continuam a ser penalizados no acesso aos quadros dos hospitais.
Esta realidade persiste, apesar de estes profissionais responderem a necessidades permanentes do SNS e
de enfrentarem duras condições de trabalho, com horários de 12 horas consecutivas, o adiamento do gozo de
férias desde o início da pandemia, a suspensão de horários flexíveis que impedem o gozo dos direitos de
parentalidade, a diminuição de tempos de pausas e de descanso e o elevado risco de exposição profissional ao
novo coronavírus a que estão sujeitos, o que tem levado ao reconhecimento e à homenagem pública da sua
dedicação e da imprescindibilidade dos seus serviços.
Tal como Os Verdes têm alertado, é fundamental promover condições de trabalho adequadas para garantir
a fixação destes profissionais no Serviço Nacional Saúde e o retorno do investimento público na sua formação
para que o reconhecimento do seu profissionalismo e excelência não ocorra apenas fora de portas.
É com este propósito que Os Verdes apresentam esta iniciativa legislativa, para que o Governo proceda à
conversão dos contratos a termo ou de substituição em contratos por tempo indeterminado de todos os
enfermeiros que respondam a necessidades permanentes dos serviços, devendo essa conversão abranger os
profissionais independentemente de esses contratos precários terem sido celebrados no âmbito da pandemia
ou antes da pandemia.
Aplausos da Deputada do PCP Paula Santos.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de lei do PCP, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se o reforço do Serviço Nacional
Saúde é a solução para o combate à epidemia da COVID-19 e para a recuperação da atividade assistencial, o
reforço de profissionais de saúde é fundamental para assegurar a capacidade para a prestação dos cuidados
de saúde necessários.