I SÉRIE — NÚMERO 46
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primeira consulta. Ou seja, o problema que motiva a consulta de especialidade não fica resolvido num único ato
ou numa única consulta.
O acesso a uma consulta de especialidade, desgarrado de todas as outras intervenções necessárias ao
tratamento do doente, melhoraria os tempos máximos de resposta garantidos, mas não iria resolver aquilo que
importa, que é assegurar os cuidados de saúde necessários, de forma integrada e centrada no utente.
Não nos parece, também, que seja a melhor forma de garantir a eficiência dos recursos públicos que estão
à disposição do SNS, o que pode ser conseguido, por exemplo, com medidas como o Sistema Integrado de
Gestão do Acesso, que permite hoje que qualquer utente, independentemente do seu local de residência, possa,
em conjunto com o seu médico de família, escolher qual é o hospital público onde quer ser atendido, tendo em
conta os seus tempos de espera.
É com a melhoria da eficiência dos seus recursos e com investimento no SNS que podemos recuperar do
atraso causado pela pandemia. É essa aposta que tem existido por parte do Governo do Partido Socialista e foi
por isso que, ao longo dos últimos cinco anos, o número de profissionais do SNS aumentou em quase 25 000
efetivos e que estes profissionais viram as suas carreiras valorizadas, através da atribuição de um prémio de
desempenho a aproximadamente 25 000 profissionais que estiveram na linha da frente do combate à COVID-
19, com os suplementos remuneratórios pelo exercício de funções de autoridade de saúde e com os
suplementos remuneratórios atribuídos aos médicos de saúde pública, quando sujeitos a um regime de
disponibilidade permanente. Isto são, Sr.as e Srs. Deputados, factos.
Sr.as e Srs. Deputados, não existe forma de passar por uma crise de saúde pública desta natureza sem pôr
à prova os sistemas de saúde. Mas o que sabemos é que estávamos muito mais bem preparados para enfrentar
situações deste tipo do que estaríamos quando a direita foi Governo. Foram anos de sucessiva
desorçamentação e desinvestimento na saúde, tendência que, felizmente, foi invertida a partir de 2015, quando
o Governo do Partido Socialista tomou posse. De lá para cá, o orçamento do SNS aumentou em quase 2,4 mil
milhões de euros. Isto são, Sr.as e Srs. Deputados, factos.
São todos estes investimentos, reforçados desde o início da pandemia e somados a um esforço imenso por
parte dos profissionais de saúde que, ao longo do último ano, têm dado o seu melhor, que têm permitido garantir
que o Serviço Nacional de Saúde não colapse, ao contrário daquilo que os senhores, repetidamente, vaticinam.
De facto, os senhores têm um preconceito ideológico contra o Serviço Nacional de Saúde, que ainda é o
mesmo preconceito que vos levou a votarem contra a sua criação, há umas décadas, e olham, reiteradamente,
para o Serviço Nacional de Saúde com desconfiança.
Srs. Deputados, ninguém sabe o que seria enfrentar a maior crise de saúde pública dos últimos 100 anos
com um Serviço Nacional de Saúde como os senhores o deixaram em 2015, mas sabemos que, nessas
condições, provavelmente, não teríamos outra solução senão fazer aquilo que os senhores, agora, gostariam
que se fizesse: entregar e pagar aos privados aquilo que é responsabilidade do Estado, que é assegurar a todos
os portugueses uma saúde de qualidade, independentemente da sua condição económica e da sua origem,
função que é assegurada, e muito bem, pelo nosso Serviço Nacional de Saúde e pelos seus profissionais.
Aplausos do PS.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Estão pessoas à espera!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Vamos, então, proceder ao encerramento deste debate, para o que tem
a palavra a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa, do CDS-PP.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, vou insistir mais uma vez. Já nem sei
quantas vezes disse isto neste Plenário, mas vou dizer mais uma vez: não estou aqui para defender os grandes
grupos privados, que tanto ocupam os pensamentos dos Srs. Deputados Moisés Ferreira e João Dias — os
senhores é que vivem obcecados com isso! —, estou aqui porque há pessoas que não têm cuidados de saúde
a tempo e horas e que deles precisam e, como se provou nesta pandemia, muitas vezes, a única maneira de
agir é desviar essas pessoas para onde essa capacidade existe, que é o setor privado e social, de forma
devidamente acautelada, devidamente contratualizada com o Estado.