I SÉRIE — NÚMERO 46
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de salário e de reconhecimento profissional, o que, sabemos bem, tem levado a um afastamento destes
profissionais para o setor privado ou até mesmo para fora do nosso País.
Várias foram as iniciativas apresentadas nesta Casa, muitas delas pela mão do PAN, em termos de
regulamentação de carreiras, de contratação de recursos, de reforço dos cuidados de saúde visual e do número
de fisioterapeutas ou de psicólogos, de construção de infraestruturas hospitalares e de centros de saúde, enfim,
uma aposta numa saúde de proximidade e na prevenção.
Entendemos que só a partir de medidas como estas é que poderemos ter um SNS forte, eficaz na resposta,
dentro ou fora de uma crise sanitária, e que garanta um acesso equitativo a qualquer pessoa que a ele recorra.
Este debate tem de ser feito e reconhecemos-lhe particular importância pelo contexto que vivemos,
atendendo à necessidade urgente de criação de mecanismos de resposta mais rápidos e que visem assegurar
as respostas e o acesso à saúde.
Entendemos, também, que o Governo já teve tempo de apresentar este calendário, já teve tempo de
apresentar estas respostas, mas não o fez ainda.
Para o PAN, só é possível aceitar uma proposta como esta na condição de que, num diálogo entre o Governo
e as entidades privadas ou sociais, sejam acautelados aspetos como custos similares aos do SNS e que se
restrinja, de facto, a um período excecional.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Dias, do
PCP.
O Sr. JoãoDias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O CDS traz hoje a discussão um projeto
de resolução que recomenda ao Governo que crie uma via verde para a saúde, neste caso uma via verde para
o negócio da doença, como estávamos à espera.
Antes de mais, permitam-me que foque dois pontos prévios.
Apesar das dificuldades e das insuficiências com que se confronta o Serviço Nacional de Saúde, ele
demonstrou ser a solução e o instrumento para garantir e assegurar os cuidados de saúde a todos,
independentemente das suas condições económicas. Mas as dificuldades sentidas no acesso aos cuidados de
saúde — dificuldades que não são de hoje, não são novas, não são recentes, nem vieram com a pandemia,
apenas se avolumaram, ganharam maior dimensão — resultam, em primeiro lugar, das opções políticas e do
desinvestimento feito pelos sucessivos Governos do PS, do PSD e do CDS.
Por isso, quando o PCP aqui trouxe, em junho do ano passado, um plano de emergência para responder à
saúde, nomeadamente às insuficiências do sistema provocadas pela pandemia, surpreendemo-nos com a
posição do PS, do PSD e do CDS, que não quiseram responder com o reforço necessário do Serviço Nacional
de Saúde.
Claro que a recuperação dos cuidados de saúde, suspensos enquanto efeito da pandemia, tem de ser uma
prioridade. Mas a solução dos problemas que condicionam o normal funcionamento do Serviço Nacional de
Saúde não passa por transferir milhões para os privados, não passa por transferir para os privados a prestação
dos cuidados de saúde, passa, sim, por mais investimento, mais financiamento, mais profissionais de saúde e
melhores equipamentos.
Uma via verde, sim, para o reforço da capacidade de diagnóstico e terapêutica do Serviço Nacional de Saúde,
procedendo à modernização dos equipamentos necessários ao diagnóstico e internalizando, de forma
progressiva, os meios complementares de diagnóstico no Serviço Nacional de Saúde.
Uma via verde, sim, para o reforço do número de camas, as mais de 4000 que a política de direita encerrou
e que agora tanta falta fazem. O Governo deverá, isso sim, criar de imediato uma via verde com procedimentos
para alargar, de forma faseada, o número de camas, seja nos cuidados hospitalares, seja nos cuidados
intensivos, seja nos cuidados continuados integrados, seja nos cuidados paliativos.
Uma via verde, sim, para a contratação de trabalhadores, porque sabe muito bem o CDS, mas também o
PSD, que é por aqui que se ataca e fragiliza o Serviço Nacional de Saúde, ou seja, é pelo ataque aos seus
profissionais, e por isso não apresentam propostas, principalmente para contratação de mais médicos, mais
enfermeiros, mais técnicos superiores de saúde, mais técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, mais
assistentes operacionais, mais assistentes técnicos. Sim, propostas que reforcem, por essa via, o Serviço
Nacional de Saúde!