I SÉRIE — NÚMERO 47
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No momento presente, o PSD, não apenas exigindo do Governo que apresente ao País um plano para o
desconfinamento, não teve, sobretudo, receio de apresentar a sua própria proposta, concreta e inteligível, tal
como fez ontem, através do seu presidente, o Dr. Rui Rio.
Trata-se de um plano seguro, isto é, indexado aos indicadores sugeridos pelos técnicos, que cruza os
números considerados seguros em termos de novas infeções, de internamentos em unidades de cuidados
intensivos e do chamado «R(t)», cruzando-os com os números de vacinação e de testagem.
É um plano que, por isso, não exige nem calendariza qualquer desconfinamento, apenas cria um algoritmo
indexando o desconfinamento ao atingimento dos valores que sejam, pelos cientistas, considerados seguros.
Parece-nos óbvio e bastante fácil de perceber!
Exige-se também um plano que faça isto por regiões, à semelhança do que se faz já em diversos países da
Europa, aplicando o algoritmo região a região e permitindo iniciar o desconfinamento nas regiões do País que
atinjam índices satisfatórios, sem estas terem de aguardar até que todo o País esteja em condições de o fazer,
o que, em algumas regiões, como as mais turísticas, pode ter efeitos muitíssimo relevantes.
Sr.as e Srs. Deputados, a isso não se chama desigualdade, mas, sim, equidade.
A proposta do PSD não indica, por isso, que o desconfinamento deva ocorrer dentro de um mês ou dentro
de um ano, mas apenas quando os indicadores assim o justificarem.
O PSD não embarca em imprudências, não exige qualquer desconfinamento, mas exige que o Governo
governe, faça o seu trabalho e saiba indicar um caminho aos portugueses, já que é essa a sua função.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: O
número de novos casos de COVID-19 diminuiu drasticamente. No período de um mês, passámos de uma média
diária de cerca de 13 000 novos casos diários para cerca de 1500. Para isso foi fundamental a redução da
mobilidade e dos contactos sociais cumprida genericamente no País.
No entanto, à medida que se reduzia o número de casos, caía também o número de testes realizados. Apesar
de várias vezes prometida, a alteração dos critérios de testagem ainda tarda em chegar ao terreno, e estamos
a testar muito menos do que os especialistas recomendaram. Em vez de aproveitar o confinamento para
massificar os testes, o Governo perdeu tempo essencial.
O País cumpriu, mas o Governo está a falhar.
A redução de novos casos permite recuperar o fôlego na realização dos rastreios epidemiológicos e na
deteção de cadeias de transmissão. No entanto, o rastreio de contactos ainda demora mais do que as 24 horas
aconselhadas pela Direção-Geral da Saúde e estamos longe de recuperar o controlo das cadeias de
transmissão.
A pandemia abrandou, mas o vírus ainda anda à solta, sem que o Governo tenha aproveitado o confinamento
para recuperar terreno.
O País cumpriu, mas o Governo está a falhar.
Com o número de novos casos a cair, reduz-se rapidamente a pressão sobre os hospitais. Dos quase 6000
hospitalizados em enfermarias, no início do mês, hoje estão ocupadas cerca de 2000 camas. Nas unidades de
cuidados intensivos, depois de se atingir o número recorde de 904 doentes internados, estamos quase a descer
a barreira das 500 pessoas internadas.
Ainda são números altos, é certo, mas tudo indica que, em meados de março, se esteja abaixo da meta das
200 pessoas em unidades de cuidados intensivos.
Com o alívio da pressão sobre os hospitais, não conhecemos ainda nenhum plano para recuperar a atividade
programada que foi adiada. Para respeitar o enorme esforço dos profissionais de saúde, é preciso preparar e
organizar, em vez de correr permanentemente atrás do prejuízo. No entanto, sobre o futuro próximo, o Governo
continua a navegar à vista.
O País cumpriu, mas o Governo continua a falhar.