I SÉRIE — NÚMERO 49
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A coesão social é a quarta missão prioritária do Presidente da República. A pandemia fez ressaltar a
existência de vários Portugais, cada vez mais distantes entre si, todos eles dentro do mesmo Portugal.
Urge reconstruir um só Portugal.
Queremos mais crescimento e, para isso, investimentos, exportações e mercado interno. Queremos, no
entanto, mais do que isso: políticas que corrijam o que a liberdade, a concorrência e o mercado, de per si, não
permitem corrigir e que se agravou, drasticamente, com a pandemia.
Reconstruir a vida das pessoas sem economia a crescer é impossível, mas reconstruí-la só com a
economia, sem corrigir as desigualdades existentes, é reconstruir menos para todos, porque, sobretudo, para
alguns privilegiados.
Uma última lição dos meses que atravessamos é a de que não há ilhas no universo e que nós, Portugal,
somos tudo menos uma ilha. Fraternidade lusófona, integração europeia, relacionamento transatlântico,
estreitamento euro-africano, ibero-americano, aberturas a Oriente, mais solidariedade, multilateralismo,
valorização das organizações internacionais, aposta continuada nas chamadas novas fronteiras — e os
oceanos são-no, desde sempre, para nós —, eis o apelo do futuro, contra o medo do diferente, do diverso, do
complementar.
A quinta missão do Presidente da República é aprofundar a nossa vocação para plataforma entre culturas,
civilizações, oceanos e continentes — simbolizada pela eleição e pela desejável reeleição de António Guterres
e pela abertura a todos os azimutes da Presidência Portuguesa no Conselho da União Europeia—, afirmar a
unidade nacional com a salutar especificidade das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, acalentar a
participação da nossa Diáspora construtora de Portugais fora do território físico, mas dentro do território
espiritual, que é o nosso, valorizar as nossas políticas externa e de defesa e as nossas Forças Armadas.
É, no fundo, afirmar um sempre renovado patriotismo. Um patriotismo das pessoas e não apenas do lugar,
da memória, dos usos, das instituições, um patriotismo do futuro, que os mais jovens assumem como
ninguém, contra ventos e marés, contra pandemias na vida e na saúde, na economia e na sociedade.
Por isso mesmo, eles, jovens, têm pressa. Pressa de ver Portugal mais justo, mais competitivo, mais
intergeracional. Não se satisfazem com as cinco missões nacionais e presidenciais para os próximos cinco
anos nem apenas com as promessas de resposta às suas angústias na educação, no emprego, na habitação,
no projeto de vida.
Esperam mais e mais depressa, para eles e para todos os Portugueses. Desde já, num Portugal desigual e
envelhecido, esperam mais e melhor Serviço Nacional Saúde, peça-chave da nossa democracia social. Num
Portugal pouco competitivo, esperam mais e melhores condições para as empresas usarem em pleno os
fundos europeus, atraírem investimento e enfrentarem, com sucesso, a competição externa cá dentro e lá fora.
Num mundo em aceleração, esperam ainda mais e melhor liderança portuguesa na luta pela ação climática.
Três causas concretas que, independentemente de rótulos, são todas elas nacionais e urgentes.
Portugueses, resta lembrar o óbvio. Sou o mesmo de há cinco anos. Sou o mesmo de ontem, nos mesmos
exatos termos, eleito e reeleito para ser Presidente de todos vós, com independência, espírito de compromisso
e estabilidade, proximidade, afeto, preferência pelos excluídos, honestidade, convergência no essencial,
alternativa entre duas áreas fortes sustentadas e credíveis, rejeição de messianismos presidenciais — no
exercício de poder ou na antecipada nostalgia do termo desse exercício —, respeito pela diferença e pelo
pluralismo na construção da justiça social, orgulho de ser Portugal, de ser Português.
Foi assim, assim será, com qualquer maioria parlamentar, com qualquer Governo, antes e depois das
eleições autárquicas, antes e depois das eleições parlamentares, antes e depois das eleições europeias, antes
e depois dos 50 anos do 25 de Abril em 2024.
Que os próximos cinco anos possam ser mais razão de esperança do que de desilusão é o nosso sonho e
é o nosso propósito.
Um ano decorrido sobre tanto luto, tanto sacrifício, tanta solidão. Temos de acreditar. Vamos acreditar.
Como escrevia Sophia de Mello Breyner: «Apesar das ruínas e da morte,/ Onde sempre acabou cada
ilusão,/ A força dos meus sonhos é tão forte,/ Que de tudo renasce a exaltação/ E nunca as minhas mãos
ficam vazias.»
Nunca as nossas mãos ficarão vazias!