I SÉRIE — NÚMERO 53
10
Só para os anos 2021-2027, o Fundo Europeu de Defesa contempla uma dotação de 13 mil milhões de euros
para investimentos em programas informáticos e tecnologias ligadas aos drones. A isto somam-se mais 10,5 mil
milhões de euros para um outro programa pomposamente denominado Facilidade Europeia de Apoio à Paz. Os
projetos da Cooperação Estruturada Permanente poderão ainda beneficiar de uma majoração de 10%.
Mas as verbas para o reforço do fundo europeu não ficam por aqui. Haverá uma verba adicional de 6,5 mil
milhões de euros para efeitos de mobilidade militar nos países da União Europeia e ainda mais 100 mil milhões
de euros para um outro programa de investigação e defesa denominado Horizonte Europa. No total são mais de
130 mil milhões de euros destinados à Defesa.
Parece que Portugal tinha como meta mínima disponibilizar para o Fundo Europeu de Defesa 200 milhões
de euros. E, no âmbito da CEP, tinha mais 25 milhões para projetos em 2020.
Por determinação do Governo, foi criado o Grupo de Acompanhamento da Participação nos Projetos PESCO,
com vista a aprofundar a cooperação no domínio da defesa entre Portugal e os outros Estados da União
Europeia, através dos Projetos PESCO.
Entre as suas várias atribuições há uma que visa o preenchimento de lacunas no âmbito da NATO e/ou União
Europeia, promovendo a complementaridade. Afinal os projetos PESCO visam o reforço militar da NATO e a
União Europeia, em simultâneo. Há aqui uma duplicação de despesas a nível da defesa.
Seria bom que se soubesse quanto o Governo pensa gastar e pensa investir nestes domínios da Cooperação
Estruturada Permanente e do Fundo Europeu de Defesa neste ano de 2021.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do Grupo Parlamentar
do PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Desde o
primeiro debate realizado nesta Assembleia, em 2017, sobre o intitulado mecanismo de Cooperação Estruturada
Permanente, que visa a criação de um exército comum na União Europeia e o reforço da capacidade militar da
NATO, que o PCP deixou clara a sua oposição à participação de Portugal neste mecanismo.
Esta dita cooperação significa mais um passo no caminho do federalismo da União Europeia, significa mais
ingerência e imposição sobre opções que devem ser soberanas e significa mais um contributo para a
militarização do assumido pilar europeu da NATO.
A participação na Cooperação Estruturada Permanente compromete necessariamente a nossa soberania.
Na verdade, Portugal compromete a sua autonomia e independência quanto ao empenho das suas forças e
quanto ao desenvolvimento e aquisição dos seus equipamentos militares, que ficam sujeitos às regras e aos
interesses das potências europeias que determinam as opções em que deve assentar essa cooperação.
Opções que devem ser soberanas, sobre os investimentos a realizar na modernização das Forças Armadas
portuguesas, tendo em conta a prossecução dos interesses nacionais e as necessidades decorrentes da defesa
nacional de Portugal, passam a estar subordinadas, cada vez mais, a imposições que são alheias aos interesses
e necessidades do nosso País e do nosso povo.
Num quadro em que escasseiam os recursos humanos e materiais para as missões constitucionais que as
Forças Armadas devem desempenhar, a criação de um exército comum europeu irá alocar recursos nacionais
em função de propósitos que nos são estranhos, em vez de os aplicar de modo a dotar as nossas Forças
Armadas com a capacidade necessária para a multiplicidade de respostas que têm de dar em função das nossas
próprias necessidades.
O PCP rejeita, por todas estas razões, esta dita Cooperação Estruturada Permanente. Rejeitamos o
envolvimento de Portugal numa corrida aos armamentos, em vez de se empenhar no desanuviamento das
relações internacionais e na resolução pacífica dos conflitos.
Portugal não deve aceitar que o cumprimento do que a Constituição prescreve no domínio das relações
internacionais e do que constitui a missão prioritária das Forças Armadas portuguesas seja condicionado pela
necessidade de articulação obrigatória com outros países e abdicar do poder decidir do que é prioritário para o
nosso país e que melhor serve o nosso povo.