9 DE ABRIL DE 2021
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O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A posição do
PCP sobre os vistos gold é, de há muito, conhecida, aliás, desde o início, desde os primeiros debates em que
foi introduzida esta possibilidade na lei de estrangeiros. Sendo assim, coerentemente com a sua posição de
sempre, o PCP apoiará as propostas que vão no sentido da eliminação desta possibilidade.
Quer-nos parecer que esta discussão está, de certo modo, enviesada, pelo menos do nosso ponto de vista,
relativamente à forma como a colocamos. Há argumentos que são conjeturais e falaciosos. Quanto à ideia de
dizerem «bom, mas isto estava no Orçamento e vocês apoiaram o Orçamento», é evidente que podíamos pôr a
questão ao contrário. Esse é um pouco o argumento da direita, que é o de se virar para nós e dizer «Ah, mas
isto está no Orçamento e vocês apoiaram-no». Neste caso, podemos dizer ao contrário: «Bem, vocês não
apoiaram o Orçamento com uma norma tão boa como esta».
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Apesar de uma norma tão boa como esta!
Risos do Deputado do PSD Carlos Peixoto.
O Sr. António Filipe (PCP): — Portanto, esse argumento não é muito válido.
O argumento económico também não nos leva por grande caminho. Ou seja, não vale a pena dizer «Bom,
mas a maior parte dos países tem vistos gold e nós somos tolos se não tivermos». Não é argumento, porque
senão podíamos dizer que há muitos paraísos fiscais e, por isso, somos tolos se não os tivermos.
A questão não se coloca no ponto de vista económico, porque essa discussão até nos leva a dizer
«Economicamente, será um bom negócio para o País». Evidentemente que sim!
Não ignoramos os efeitos em matéria de especulação imobiliária, mas também não ignoramos, obviamente,
que a construção civil tem um impacto muito significativo na economia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Explique aí ao lado!
O Sr. António Filipe (PCP): — Portanto, não vamos por aí.
Para nós, a questão é a de que os vistos gold, para além de que é uma evidência que aqueles vários
critérios…
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Deputado Telmo Correia, veja lá se quer que eu fale dos submarinos!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não se afogue!
O Sr. António Filipe (PCP): — Srs. Deputados, posso continuar? Já percebi que, mesmo com máscara, não
prescindem dos apartes. Podem é ser menos percetíveis!
Dizia eu que é uma evidência que aqueles vários critérios para aquisição de vistos gold, como a criação de
postos de trabalho, são o que menos importa, porque praticamente aí não tem impacto nenhum. O que tem mais
impacto são as pessoas que têm dinheiro para investir em imóveis.
A questão é que há uma dualidade de critérios relativamente à política de imigração e de autorização de
residência. Não está aqui em causa a nacionalidade, e ainda bem, e nós não fomos daqueles que nos batemos,
com unhas e dentes, para que se pudesse comprar a nacionalidade portuguesa por outros critérios, mas também
não achamos que se deva poder comprar a autorização de residência.
Ou seja, não nos agrada minimamente uma situação em que os prédios estejam a ser feitos por imigrantes
que estão em situação ilegal por não conseguirem ter acesso a uma autorização de residência para trabalharem
legalmente em Portugal, mas são eles que fazem as casas. E, depois, alguém que tem dinheiro para comprar o
imóvel já tem autorização de residência por ter dinheiro e o outro está ilegal porque não tem dinheiro. Essa
mercantilização da autorização de residência em Portugal é que contestamos e é isso que nos faz considerar
que esta atribuição dos vistos gold significa uma distorção clara relativamente àquela que deve ser a política de
imigração que defendemos para o nosso País.