9 DE ABRIL DE 2021
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a uma fuga de «cérebros» e de conhecimento que teria potencial para contribuir para a competitividade do
Sistema Científico e Tecnológico Nacional.
Se, por um lado, a FCT tem garantido taxas de aprovação na ordem dos 40% nos concursos de bolsas
individuais de doutoramento, apostando na formação avançada, por outro lado, as taxas de reprovação de
Projetos I&D rondam os 95%. Dos 5847 projetos de candidatura de investigação científica submetidos à
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, apenas 312 foram financiados.
Também no concurso Estímulo ao Emprego Científico Individual, da FCT, as taxas de aprovação ficam muito
aquém das necessidades e das expectativas criadas aos investigadores doutorados. Em 2020, das 3648
candidaturas validadas, apenas 300 foram financiadas.
Os Verdes entendem que os apoios da FCT, que hoje sustentam o escasso emprego científico e os projetos
I&D, têm de ser convertidos em contratos de trabalho, em trabalho com direitos, em investimento sólido e de
continuidade.
Face à ausência de um modelo de financiamento capaz de promover o trabalho com direitos para os
investigadores doutorados e mesmo assumindo que os apoios da FCT para Projetos I&D e os apoios para o
emprego científico não constituem garante de qualidade e continuidade da atividade científica desenvolvida em
Portugal, Os Verdes reconhecem o valor para a comunidade científica da atribuição de financiamento pela FCT,
pelo que consideram que não são aceitáveis estas taxas de aprovação irrisórias.
Assim, propomos o estabelecimento de metas para os próximos dois anos, para aumentar a integração de
investigadores doutorados em carreiras de investigação, substituindo os concursos Estímulo ao Emprego
Científico por contratos de trabalho.
Propomos também a definição da regularidade na atribuição de verbas com origem no financiamento público
para a FCT, a médio e longo prazo.
Propomos igualmente a regularização dos vínculos precários dos investigadores no ensino superior e na
ciência ao abrigo do PREVPAP (Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na
Administração Pública).
Propomos, ainda, a transparência e uniformização dos critérios de avaliação e aumento das taxas de
aprovação do financiamento do trabalho de investigação. Por último, propomos uma maior transparência dos
processos, através da elaboração de relatórios anuais pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
É de toda a justiça valorizar a investigação científica e acabar com a precariedade nesta área.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para apresentar a iniciativa legislativa em nome do Bloco de
Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Monteiro.
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda traz hoje a debate
um projeto de lei que altera o Estatuto do Estudante Internacional, que existe desde 2014. Mas não foi em 2014
que iniciámos uma discussão importante, na Assembleia da República, sobre as consequências da crise social
e económica que se instalou na Academia em Portugal justamente por causa da crise pandémica.
De todos os estudantes a quem temos vindo a tentar dar resposta, pelos seus anseios, dificuldades
económicas, situações difíceis do ponto de vista da saúde mental, destacam-se em grande parte estudantes
internacionais. São estudantes que, nos últimos dois, três, quatro, cinco anos, procuraram o País para poderem
aqui diplomar-se, para poderem aqui estudar, e que, neste momento, vivem uma situação verdadeiramente
aflitiva.
Há, dentro desta grande comunidade internacional de proveniências diferentes, um grupo específico de
estudantes brasileiros — diria eu tratar-se de uma fatia muito importante deste bolo —, que, por ver a sua moeda
nacional desvalorizada, por, em grande parte, pagar as propinas avultadas que são obrigados a pagar no ensino
superior português e também por ter perdido os seus empregos precários, informais — muitas vezes, na área
do turismo, que acabou por fechar portas —, está mesmo numa situação de emergência social.
Quando falamos de uma situação de emergência social, não estamos a falar de estudantes que têm cá uma
família a quem podem pedir apoio e que os pode acudir. Não estamos a falar, sequer, de estudantes que
conseguem voltar para a sua casa, porque vivem na cidade onde estudam ou no país onde estudam.