9 DE ABRIL DE 2021
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Aliás, a ABIC tem mesmo alertado para o facto de, a par do endurecimento das condições socioeconómicas
dos investigadores, a falta de perspetivas de futuro estar a levar a um preocupante aumento de casos de
bolseiros, nomeadamente bolseiros de doutoramento, a colocarem mesmo a possibilidade de desistência das
bolsas.
Por isso, o PCP traz hoje a discussão iniciativas que dão resposta aos problemas imediatos, mas também
aos problemas de fundo.
Se é verdade que há muito se reivindica estabilidade e previsibilidade nos concursos, não se pode ignorar a
excecionalidade do momento que atravessamos.
Assim sendo, propomos: um apoio excecional aos bolseiros de investigação científica; a garantia de acesso
ao apoio de assistência à família; a prorrogação de todos os contratos de bolsas durante 6 meses; a prorrogação
dos Projetos IC&DT (investigação científica e desenvolvimento tecnológico)e dos Projetos Estratégicos das
Unidades de Investigação por um prazo de 6 meses, assegurando-se o respetivo financiamento e manutenção
de todos os trabalhadores adstritos a cada projeto; a prorrogação do CEEC (Concurso Estímulo Emprego
Científico) Institucional, concurso para atribuição de bolsas de doutoramento 2021 e Concurso de Projetos de
IC&DT em todos os domínios científicos; a abertura de uma 2.ª fase de candidaturas ao CEEC Individual (4.ª
edição) e Concurso de Projetos de IC&DT em todos os domínios científicos.
Mais, numa outra linha, afirmamos que é preciso que a proposta do PCP em Orçamento do Estado, para que
a prorrogação do prazo de entrega e/ou apresentação da tese ou dissertação, não implicando também o
pagamento de qualquer valor referente a propinas, taxas ou emolumentos, seja cumprida em todas as
instituições de ensino superior.
Sr.as e Srs. Deputados, é incompreensível e é indigno que existam instituições a colocar no «fio da navalha»
centenas e centenas de alunos em plena situação de epidemia!
Além de ser preciso tomar medidas para ultrapassar as questões emergentes, é preciso tomar medidas para
que nunca mais esta situação aconteça.
Em Portugal, estima-se que pelo menos metade dos trabalhadores científicos tenha vínculos precários. É
preciso atacar este problema pela raiz. Uma grande parte dos trabalhadores do SCTN mantém com a instituição
onde trabalha uma relação baseada no Estatuto do Bolseiro de Investigação.
O PCP defende que é preciso acabar com ele. Na prática, o atual Estatuto do Bolseiro tem permitido utilizar
milhares de técnicos e de investigadores sem a devida retribuição com base em vínculos precários. Tendo em
conta que estes trabalhadores científicos produzem efetivamente trabalho, imaterial e material, é da mais
elementar justiça que lhes seja garantido um contrato com estatuto legal de natureza jurídico-laboral.
Assim, a principal proposta que apresentamos nesta matéria é a substituição do regime de bolsas atualmente
vigente por contratos de trabalho que garantam um efetivo vínculo entre o investigador e a instituição onde
presta trabalho.
Defendemos, por fim, que a generalização do recrutamento de trabalhadores para suprir as necessidades do
Sistema Científico e Tecnológico Nacional tem de passar, necessariamente, e sempre, pela abertura da
contratação para as carreiras.
Sr.as e Srs. Deputados: basta de precariedade na ciência!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Cristina Rodrigues.
A Sr.ª Cristina Rodrigues (N insc.): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: São cerca de 56 000 os
estudantes internacionais em Portugal, que, segundo a Associação de Estudantes da Universidade de Lisboa,
geram cerca de 20 milhões de euros de receita para as instituições. Acontece que o ensino público não é um
negócio, é, sim, um direito fundamental, independente da nacionalidade dos estudantes. No entanto, a atual lei
permite que as instituições de ensino superior possam, livremente, fixar o valor da propina, estabelecendo que
esta não pode ser inferior à propina máxima fixada para o ciclo de estudos em causa. Assim se justifica que, na
mesma faculdade, haja estudantes a usufruir exatamente dos mesmos serviços, com os mesmos professores,
com as mesmas infraestruturas, no entanto uns pagam uma propina anual inferior a 1000 € e os outros podem
chegar a pagar 7000 €. Esta é uma situação profundamente injusta e discriminatória.