22 DE ABRIL DE 2021
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Abril quando temos um País assim? Como é que podemos falar de magia ao sermos ultrapassados por países
que há poucos anos estavam de mão no ar a saudar o comité central da União Soviética?
Falou da Constituição e saudou-a calorosamente e aí estamos em desacordo. Pergunto-lhe se a mesma
Constituição não exponenciou também, a par da urbanização, a par do desenvolvimento da mobilidade, a par
do alojamento, a corrupção que hoje temos endémica em Portugal, fruto também dessa «magia» de Abril que
hoje aqui trouxe para saudar.
Por isso, Sr. Deputado, pergunto-lhe se não entende que a Constituição é hoje também um bloqueio e um
travão, como aconteceu no caso do enriquecimento injustificado, ao combate eficaz à corrupção e à
criminalidade económica com o qual temos de lutar em Portugal.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, vou usar os 2 minutos, porque junto o tempo dos dois pedidos
de esclarecimento, uma vez que o Partido Socialista merece que eu faça este pedido em cúmulo.
É possível, não é, Sr. Presidente?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira prosseguir.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Deputado, em 2011, um inquérito disse que metade dos portugueses
entende que o País está pior agora do que antes do 25 de Abril. Metade! É a tal «magia» de Abril que nem os
cidadãos conseguiu convencer.
Este é o drama que vamos celebrar no próximo domingo. O drama de um País que celebra a liberdade, mas
que se vê atolado em corrupção, em dificuldade e em subdesenvolvimento. O drama de um País que não
consegue largar os piores vícios que tinha, que tem e que mantém, mesmo na luta quando celebra a liberdade
e o aniversário de partidos tão importantes como o Partido Socialista.
E, Sr. Deputado, para terminar não podia deixar de lhe dizer o seguinte: criticou o escrutínio político de 24
horas que acontece nas redes sociais. Não devia ser essa a «magia» de Abril? Não devíamos todos poder ter
voz como cidadãos, sem medo de os enfrentar e de nos enfrentarmos em todos os fóruns, em cada fórum do
WhatsApp, do Facebook, do Twitter? Não é isso ser escrutinado? Não é isso ter das democracias mais
avançadas do mundo? Afinal que democracia é que quer, Sr. Deputado?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Que democracia é que quer, Sr. Deputado, quando celebra os tanques na rua, na madrugada do dia 25 de
abril, e não celebra os milhões de portugueses que, no Facebook, no Twitter, no WhatsApp e em todas as redes
sociais, enfrentam e escrutinam o Governo, 24 horas por dia?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem, agora, a palavra, para um pedido de esclarecimento, o Sr.
Deputado Telmo Correia, do CDS-PP.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Carneiro, acho que, nestes
momentos, mais do que colocar-lhe um conjunto de questões mais ou menos difíceis, o nosso papel é um
bocadinho o de felicitá-lo a si e ao Partido Socialista por estes 48 anos de história, reconhecendo que,
obviamente, nem sempre a história do Partido Socialista foi a mesma e que nem sempre a história do Partido
Socialista — mas isso será verdade para qualquer um de nós — foi igualmente notável ou bem-sucedida.
Eu próprio, visto como um opositor de sempre do Partido Socialista, diria que há momentos da sua história
que nos merecem mais enlevo do que outros momentos dessa mesma história. Diria mesmo que, nalguma
medida, o Partido Socialista de Mário Soares, o Partido Socialista que foi sempre um travão aos partidos mais
radicais e às tentações totalitaristas no nosso País é diferente do Partido Socialista que celebrou a gerigonça e
que, na expressão do atual Primeiro-Ministro, fez cair o muro, ou que, na minha expressão, caiu para o outro
lado do muro.