22 DE ABRIL DE 2021
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discussão. Importa também assinalar que o projeto que deu origem a esta petição acabou por ser colocado em
suspenso, não se conhecendo, até à data, previsão de quando irá avançar concretamente. No entanto, a petição
traz a debate questões importantes para o espaço público e para a mobilidade.
Lisboa é uma das cidades europeias mais poluídas. Todos os dias entram em Lisboa 380 000 carros que
libertam para o ambiente toneladas e toneladas de dióxido de carbono que contribuem para o aquecimento
global. Promover a neutralidade carbónica é uma urgência. Não podemos esperar mais!
Isto requer uma redução drástica do número de carros que entram na cidade. São necessárias medidas de
restrição à circulação automóvel, as pessoas devem poder deixar os carros em casa. Devemos avançar
rapidamente com a criação de quarteirões de emissão zero, podendo começar-se pelas zonas residenciais
consolidadas e que têm mais impacto na poluição, como o eixo da avenida da Liberdade. Mas concordamos
com os peticionários em que este objetivo não será alcançado sem uma maior e melhor oferta de transportes
públicos.
É essencial promover a confiança das pessoas nos transportes públicos coletivos e, para tal, é fundamental
a oferta de um serviço de qualidade, previsível, fiável e tendencialmente gratuito — podemos começar pelas
pessoas desempregadas —, que permita a quem vem de fora da cidade fazer as suas deslocações e a quem
vive na cidade deslocar-se sabendo que, em qualquer zona da cidade, há oferta de transporte público e que
essa informação é de confiança. Este aspeto também permite diminuir as desigualdades de oferta de transporte
nas zonas mais pobres. Nada disto pode ser feito sem um investimento público muito robusto e uma alteração
do paradigma do ordenamento do território nas cidades, por forma a torná-las mais amigas das pessoas e dos
transportes públicos.
A cidade deve ser pensada numa lógica de proximidade, em que as deslocações necessárias se encontram
acessíveis a alguns minutos de distância. Mais habitação acessível na cidade é também uma via para a redução
das deslocações entre a casa e o trabalho, que, hoje, são responsáveis pela brutal entrada de veículos de
transporte individual na cidade.
As áreas que deixam de ter circulação automóvel devem dar lugar a espaços públicos, a zonas verdes e a
zonas de comércio local. Esta medida protege a saúde pública, o ambiente e devolve o espaço público às
pessoas e a atividades sociais.
O Bloco de Esquerda, tanto no Parlamento, como na cidade de Lisboa, está empenhado em acompanhar
estes processos e em aprofundar a reflexão sobre os mesmos, para que existam soluções de longo prazo que
reduzam a poluição resultante da entrada de carros na cidade.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, o Sr. Deputado Pedro Morais
Soares. Aproveito para o cumprimentar, pois ainda não tinha presidido a nenhuma sessão com a sua
intervenção.
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, muito obrigado.
Começo por cumprimentar os 4746 peticionários desta iniciativa, em especial a pessoa do primeiro subscritor,
Afonso Maria Pires. Trata-se de uma petição contra as obras para fechar a Baixa de Lisboa.
Sr. Presidente, as obras para fechar ao trânsito a Baixa de Lisboa surgem numa pura propaganda socialista
que o Sr. Presidente da Câmara de Lisboa apresentou à comunicação social e apenas à comunicação social.
Vejamos, então. Em 31 de janeiro de 2020 foi anunciado que o projeto ZER ABC (Zona de Emissões
Reduzidas da Avenida Baixa-Chiado) previa um conjunto de intervenções relevantes no espaço público, que se
traduziam em alterações à circulação automóvel e pedonal, ao estacionamento e ao transporte público, nas
zonas da avenida da Liberdade, da Baixa-Chiado, da avenida Almirante Reis e zonas adjacentes. À data,
segundo o veiculado, previa-se a execução faseada do projeto e, em maio, iniciar-se-ia uma campanha de
informação e sensibilização em relação às novas regras de circulação e estacionamento, bem como o processo
de registo e de atribuição de dísticos aos residentes e de autorizações.
Em junho, as novas regras entrariam em vigor de forma pedagógica e, em julho, iniciar-se-ia a fiscalização
efetiva por parte da Polícia Municipal e da Polícia de Segurança Pública.
Mais tarde, em 3 de junho 2020, em plena pandemia, o Sr. Presidente Fernando Medina disse à comunicação
social que os projetos Lisboa Ciclável e A Rua é Sua, que incluem várias medidas que já faziam parte do projeto
ZER ABC não seriam cancelados, mas, sim, recalendarizados devido à pandemia COVID-19.