I SÉRIE — NÚMERO 59
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O populismo e a demagogia, fortissimamente financiados, ganham força de forma insidiosa e os Estados
Unidos da América escaparam por pouco.
Os desafios que o futuro nos reserva são imensos. São globais, complexos e interdependentes. Exigem
uma sólida união de esforços e de recursos. Ou nos ajudamos mutuamente ou naufragamos todos juntos. É
essa também a lição da pandemia.
A emergência climática, as desigualdades obscenas, as novas e antigas doenças, a insegurança laboral, a
transição demográfica e os conflitos armados não podiam ser mais evidentes.
Vai ser muito difícil cumprir o acordo climático de Paris.
Prevê-se que dois terços das futuras doenças infeciosas sejam transmitidas dos animais ao homem.
A escravatura atual é diferente e deixou de ser encapotada.
As previsões apontam para alterações demográficas profundas com impactos desconhecidos na
organização das sociedades.
Precisamos de conhecimento, muito mais conhecimento, muito mais partilhado e em todos os domínios.
Aplausos do PS.
O digital vai ajudar muito, mas não chega.
Os investimentos necessários serão enormes, é certo, mas ninguém duvide: a ignorância é muito mais
cara.
Sem a confiança dos cidadãos isso não será possível.
Como sempre, é a multiplicidade e diversidade de visões que enriquece o debate democrático. A nobreza
da política está, precisamente, na defesa intransigente da confrontação de ideias, mas também em conseguir
agregar esforços para construir o tal mundo sustentável que todos desejamos. Sempre inspirada na empatia e
na solidariedade e guiada pelo conhecimento e pela coragem, sim, essa coragem destemida que nos permite
renascer todos os dias e para sempre em liberdade.
Aplausos do PS, de pé.
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Sua Excelência o Presidente da República vai agora
dirigir uma mensagem ao Parlamento.
Tem a palavra Sua Excelência o Presidente da República.
O Sr. Presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa): — Sr. Presidente da Assembleia da
República, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.ª e Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça, do Tribunal
Constitucional, do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas, Sr. Presidente António Ramalho
Eanes, Srs. Membros do Governo, Digníssimos Convidados, Sr.as e Srs. Deputados, Portugueses:
Passaram, há um mês, 60 anos sobre o início de um tempo que haveria de anteceder e determinar a data
de hoje, aquela que aqui evocamos, 25 de Abril de 1974.
Foi um tempo feito de vários tempos e modos que, para sempre, marcou a vida de mais de um milhão de
jovens saídos das suas terras para atravessarem mares e viverem e morrerem noutro continente ou dele
regressarem, alguns com traços indeléveis na sua saúde.
Foi um tempo que, para sempre, marcou a vida das suas famílias, dos seus lugares, das suas aldeias, das
suas vilas e mesmo das suas cidades, no fundo, de todo um Portugal, durante 13 anos, ou um pouco mais.
Foi um tempo que, para sempre, marcou a vida daqueles que, por opção de princípio, recusaram aquela
partida e rumaram a outros destinos, continuando ou iniciando uma luta contra o que estava e queria
permanecer.
Foi um tempo que, para sempre, marcou a vida dos que, já lá vivendo, idos eles ou os seus antepassados
de terras daquém mar, de lá vieram, no termo desses longos anos, ou lá ficaram e estão para ficar.
Foi um tempo que, para sempre, marcou a vida dos que viveram e morreram do outro lado da trincheira,
para conquistarem o que alcançaram definitivamente, depois do 25 de Abril de 1974.